Assistente virtual particular para notícias

Uso dos dispositivos no consumo e na produção de notícias foi discutido no painel 'A fogueira digital: narração de histórias por voz'

Por Letícia Duarte

Imagine que você ligou o rádio no seu carro e os apresentadores estão comentando sobre um livro, mas você perdeu o título. "Ei, do que eles estão falando?", você pode perguntar e seu assistente pessoal digital vai responder instantaneamente, trazendo as informações que você perdeu. O cenário deve se tornar comum em um futuro próximo, com a popularização do mercado de assistentes virtuais inteligentes como a Alexa, da Amazon. O uso dos dispositivos no consumo e na produção de notícias foi discutido no painel do SXSW 'A fogueira digital: narração de histórias por voz', nesta quinta-feira, 15.

Saigin Govender, coordenador do time de tecnologia da Alexa, na Amazon, disse que o produto foi lançado sendo abastecido com informações de três veículos de mídia e, atualmente, são mais de cinco mil. "Percebemos que os clientes são engajados, muitos usam a palavra 'amor' para definir sua relação com a Alexa. É uma relação muito mais pessoal com as notícias", contou. Um dos elementos que facilitam a comunicação com esses dispositivos é que são programados para responder a perguntas de voz de forma espontânea, como se fossem um amigo. O desafio dos veículos de notícia é aprender como contar as histórias de forma natural e interativa na nova plataforma de voz.

"Se você estiver conversando com um amigo, você não vai dizer: 'Olha, saí com um cara ontem. Você quer saber quem ele era? Onde fomos? O que a gente conversou? Se eu gostei?'", exemplifica Emily Withrow, editora do Quartz Bot Studio, onde ela escreve e constrói experiências conversacionais de notícia, testando emergentes plataformas. "As conversas reais não são assim, temos que pensar em uma interação mais natural. Então, testamos reações de pessoas reais a determinada manchete. Fizemos uma história sobre botões de elevadores, por exemplo. Aí dizemos: "Os botões de fechar as portas não funcionam". As reações naturais seriam algo como 'Sério?', ou 'Eu sabia!'. Então, quando programamos a história, temos que considerar tudo isso. Os usuários acreditam que as reações emocionais mudam a história. Na verdade não, é programação, mas isso cria uma experiência diferente", analisou. 

Diante das possibilidades de customizar cada vez mais o consumo de notícias, uma das preocupações é o risco de hiperpersonalização, o que levaria os usuários a viverem ainda mais isolados em sua própria bolha. "Temos essa preocupação de que as pessoas só queiram ouvir o seu lado em um debate. Mas o que temos visto até agora em nossos testes é que, felizmente, tem havido um interesse por ouvir o que o outro lado está falando", ponderou Dave Merrell, gerente de Produto do Washington Post.

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