O que desponta como tendência do SXSW 2018

Em entrevista exclusiva para Coletiva.net, sócia-fundadora da White Rabbit, Vanessa Mathias compartilhou suas impressões sobre o evento

Por Letícia Duarte

Quando perguntada sobre sua estratégia para sobreviver ao SXSW, a administradora Vanessa Mathias ergueu o copo de café e duas latas de RedBull, que carregava no final da manhã de quinta-feira, entre uma atividade e outra do festival. A sócia-fundadora da White Rabbit, que pelo terceiro ano produz o Trends Report do SXSW, levando para empresas brasileiras uma compilação de tendências de cada edição, a partir de um trabalho que reúne análises de uma equipe de cerca de 30 curadores, antecipou ao Coletiva.net algumas das suas impressões sobre o evento de 2018.

Coletiva.net: Qual é a sua avaliação sobre o SXSW 2018?

Vanessa Mathias: Eu amo isso aqui, queria morar dentro do SXSW. Existem muitos festivais de tecnologia e empreendedorismo, mas este é mais do que isso, é um festival de criatividade, que reúne várias vertentes. Quando se pensa em apontar tendências, antes de ver o que as empresas estão fazendo vamos pesquisar nas artes e na arquitetura. O festival reúne tudo isso de forma conjunta. A programação tem como foco indicar iniciativas que vão impactar o futuro daqui a dois ou cinco anos.

Coletiva.net: Que tendências despontam desta edição?

VM: São vários temas transversais. Uma ideia que apareceu forte neste ano foi o Blockchain (tecnologia que registra vários tipos de transações virtuais e prevê a descentralização de dados como medida de segurança). Isso mostra a tendência de inversão de poder. Como na música, em vez de grandes empresas mediarem o relacionamento com o público, a relação é mais direta entre os artistas e as pessoas hoje. Agora, na área financeira, isso tira dos bancos todo o poder da mediação. Outro tema que apareceu forte é a mobilidade autônoma. Falava-se disso há três anos, mas agora estão chegando mesmo os carros voadores. Neste momento, podemos dizer que o futuro chegou. Ainda, foi abordada a questão do espaço, com painéis sobre a colonização de Marte, por exemplo.

Coletiva.net: Parece que estamos chegando mesmo no cenário dos filmes de ficção científica...

VM: Tivemos várias previsões. Como disse o futurista Ray Kurzweil, do Google, que é um dos mais renomados do mundo, a velocidade da mudança está se acelerando. O mundo vai mudar muito mais nos próximos cinco anos do que mudou nos últimos cinco. E é por isso que tanta gente vem ao festival, as pessoas se sentem desatualizadas, uma obsolescência programada humana, e isso causa medo. 

Coletiva.net: E nas questões sociais?

VM: Há algum tempo os temas de diversidade e impacto social positivo têm aparecido. Um dos diferenciais deste ano foi o assunto do intersexo. Se antes se falava que representatividade era bom para negócios, agora chegamos a um ponto de não classificação, de ir além da binariedade de gênero. Quem disse que existem só dois sexos? Na área do impacto social, existe outra mudança de paradigma. Hoje, é feio as empresas falarem que o objetivo delas é ganhar dinheiro. Um amigo meu definiu assim: "somos a geração do 'show me the money' (me mostre o dinheiro), agora as novas gerações são a do 'show me the meaning (me mostre o significado)'". Já na área da Mídia, o que se vê é uma crise de identidade midiática, ninguém sabe mais o que é.

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