Viva o Jornalismo

Por José Antonio Vieira da Cunha

O verdadeiro Jornalismo, este com jota maiúsculo, se apresentou com todas as suas qualidades e valores essenciais como coragem, ousadia, equilíbrio, credibilidade e confiança nestes últimos dias trágicos do Rio Grande do Sul.

Não vamos falar da tragédia; vamos falar da forma verdadeiramente gigantesca como os veículos tradicionais - jornal, rádio, televisão - estão sabendo acompanhar a dinâmica dos acontecimentos que a cada dia, a cada momento, se transformam, surpreendem, amedrontam. O que se vê nestes dias de fatos inesperados e inimagináveis é o exercício pleno de um Jornalismo gigante, com repórteres às vezes arriscando sua integridade física no esforço de enviar ao público a informação necessária, a informação precisa, a informação indispensável para que tenhamos o conhecimento adequado sobre o momento que se vive.

Residir em Santa Catarina não me afastou de vivenciar estes momentos delicados e trágicos que boa parte dos conterrâneos gaúchos viveram e vivem. Emissoras de rádio e de televisão nacionais são generosas nos espaços dedicados ao noticiário sobre o Rio Grande do Sul, tanto que muitas vezes minha companheira Eliete não consegue conter o choro ao ver cenas tão reais e as atitudes solidárias que se disseminam por todo o país.

No caso dos jornais gaúchos, é em seus sites que se acompanha dia a dia tudo o que se passa. Daí a convicção de que o que está sendo realizado jornalisticamente é de relevância absoluta. Estes veículos ditos tradicionais mostram-se muito capazes e competentes na ação de coletar as informações e entregá-las a seus públicos de forma organizada e clara. As dificuldades que o Correio do Povo enfrentou, com alagamento em sua unidade de impressão, ou a Zero Hora, com distribuição do impresso sendo inviável em bairros literalmente debaixo d'água, não reduziram a relevância destes poderosos meios de comunicação.

É muito impossível acompanhar tudo o que se faz, escreve, diz e mostra, mas tem alguns esforços que merecem registro. Como a insistência positiva em postar a todo momento vídeos no X e no Instagram por parte dos repórteres do Jornal do Comércio, um veículo rotineiramente voltado para cobrir eventos, digamos, mais formais, e que tem se superado nestas jornadas imprevistas. No Correio do Povo vi se destacar, a partir do alerta feito por um amigo, o gerente de Jornalismo Jonathas Costa, um dos primeiros, se não o primeiro, a registrar a inundação que tomou conta do centro de Porto Alegre, e por lá periga estar neste momento, com um de seus frequentes e objetivos boletins.

O Grupo RBS merece uma menção toda especial, tal a dimensão e precisão do material que apresenta a todo momento. Dos esforços do pessoal de rádio e tevê tenho bons insigths a partir do noticiário apresentado por veículos nacionais como a Globo ou a rádio CBN. Para o trabalho de Zero Hora, que leio diariamente, curvo-me à competência explícita por trazer diariamente uma cobertura abrangente, com textos claros e objetivos e fotografias esclarecedoras. Porto Alegre está ferida no orgulho, na alma e no brilho, como registrou o repórter Carlos Rollsing. É verdade, mas todos estes elementos estão presentes no noticiário preciso que seu jornal apresenta.

Jornal, rádio, televisão voltaram a ser uma referência confiável como difusores de notícias verdadeiras. Agora mesmo, dentro do movimento identificado como #AjudaRS, grupos jornalísticos se unem para apresentar informações confiáveis e seguras obtidas a partir de rigorosa apuração, atentando para afastar relatos desqualificados. Por que exaltar este Jornalismo? Por um motivo que todos sabemos muito bem: nossa rotina diária no campo da comunicação está impregnada de falsidades, tornando a prática do Jornalismo ainda mais difícil. Não faltam relatos de desinformações e mentiras neste ambiente altamente poluído das redes sociais, onde lamentavelmente, mesmo em meio a uma tragédia desta dimensão, segue tendo frutos a polarização doentia e criminosa.

É imprescindível seguir prestigiando os meios de comunicação e os profissionais jornalistas, o que podemos fazer dando preferência e confiança aos que identificamos como respeitáveis e dignos de nossa confiança. São eles, inclusive, que nos apontam as fake news, estas que, como anotou a plataforma Aos Fatos, "zombam da vida alheia, tripudiam sobre os mortos e não se constrangem em produzir conteúdos falsos com o objetivo de conseguir cliques, engajamentos e monetização".

É um trabalho incansável e dispendioso, o exercício profissional do Jornalismo, já que o ato de produzir informações exige recursos, muitos recursos e investimento. A este Jornalismo, portanto, devemos reverência e admiração. E apoio, para que não nos falte nunca.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem quatro netos. E-mail para contato: [email protected]

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