O papel completo e estratégico da assessoria de imprensa em eventos

Por Matheus Pannebecker, para Coletiva.net

Todo assessor de imprensa - e todo jornalista, na verdade - deveria, pelo menos uma vez na carreira, trabalhar nos bastidores de um grande evento. É bem provável que uma experiência como essa possa colocar abaixo o antiquado folclore, eventualmente perpetuado pelo mercado e pela área acadêmica, de que assessorias trabalham para defender interesses (como se jornais e sites, de alguma forma, também não o fizessem) e de que seguir carreira nessa área é trilhar um caminho alternativo no Jornalismo, um menos glamouroso e complexo do que o idealizado em grandes redações - tese que, convenhamos, está cada vez mais em plena desconstrução.

Entre outras tantas experiências, tenho a satisfação de, há sete anos, ser o atendimento do Festival de Cinema de Gramado no trabalho de assessoria que a Pauta - Conexão e Conteúdo realiza para o Festival de Cinema de Gramado. E o que acontece nos bastidores é muito maior do que os mais de 400 profissionais da imprensa credenciados pelo evento (estatística de 2018) veem ao chegar no balcão da imprensa do evento ou no disputadíssimo Tapete Vermelho, por onde passam atores e realizadores do cinema ibero-americano. Na verdade, o trabalho começa ainda no primeiro semestre e, claro, gradativamente se afunila até chegar ao evento propriamente dito.

Começando pelos pilares mais básicos, é um imenso (e prazeroso) exercício pensar diferentes conteúdos, em diferentes formatos, para mídias on e offline. Há muito tempo divulgação deixou ser apenas tarefa de produzir um release geral que é enviado para um único mailing. Por questões de estratégia e exigências do mercado, é preciso pensar conteúdos específicos, com abordagens diferenciadas, muitos deles focados no espaço que se procura pleitear. Tratando-se de um evento de dez dias como o Festival de Cinema - normalmente condensado em um catálogo de aproximadamente 150 páginas, também editado pela assessoria - assunto é o que não falta para jornais impressos, rádios, TV's, sites, blogs e, hoje em dia, digital influencers. As possibilidades de produção são infinitas, e é aí que entra a estratégia de distribuir o conteúdo da melhor maneira, tarefa que exige planejamento e know how.

Outro pilar básico do trabalho é a própria divulgação, que se redimensiona em um evento como o Festival de Cinema de Gramado. Além da abrangência nacional, há de se pensar o conteúdo em espanhol, visto que, somente em 2018, países como Costa Rica, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia disputam o Kikito (além, claro, de Natalia Oreiro, atriz uruguaia homenageada com o troféu Kikito de Cristal, destinado a expoentes do cinema latino-americano). O trabalho minucioso de construção, administração e atualização do mailing, é peça fundamental no pré-evento e também na realização do mesmo, especialmente porque a demanda e a procura dos veículos é diretamente proporcional aos 46 anos de história de um evento como o Festival de Cinema.

Nessa temporada atendendo o evento, coloque ainda na conta a preparação da coletiva de lançamento da respectiva edição, atualização de redes sociais (e elas são várias: Facebook, Twitter, Instagram e o próprio site oficial), administração de agendas de entrevistas (inclusive dos filmes, que são aproximadamente 50 em competição!) e o atendimento à imprensa, que não termina junto ao evento: há, pelo menos, um ou dois meses de trabalho posteriores, acompanhados ainda da produção do relatório de clipping e mensuração. No Festival em si, chega a hora de colocar a vocação para repórter à prova com as produções de boletins diários enviados à imprensa, as entrevistas com diretores e elenco para cobertura publicada no site e nas redes sociais, organização de debates e, claro, a coordenação de entrevistas no Tapete Vermelho, momento disputado por emissoras e veículos de todo o Brasil.

Na era em que o jornalismo exige cada vez mais profissionais multifacetados, assessorar um evento como o Festival de Cinema de Gramado dá essa dimensão de um trabalho 360º, quando precisamos pensar cada etapa, do início ao fim, participando, de um jeito ou de outro, do mosaico completo. É por tudo isso que digo que todo assessor de imprensa e todo jornalista deveria um dia ter a oportunidade de atuar nos bastidores de um grande evento. A responsabilidade - com os processos, com o cliente, com a qualidade do trabalho - é maior do que se normalmente imagina e, não à toa, igualmente enriquecedora e recompensadora por mostrar que, apesar das transformações, dos cortes e dos enxugamentos da profissão, o jornalismo praticado pela assessoria de imprensa ainda se multiplica em tantas outras atividades que o mercado e o meio acadêmico ainda precisam ter a devida dimensão e conhecimento.

Matheus Pannebecker é jornalista, crítico de cinema, assessor de imprensa e sócio da Pauta - Conexão e Conteúdo.

Comentários