Só enche o saco quem pagar por isso

Por Fernanda Rosito, para Coletiva.net

O relógio marcava perto das 9 horas da noite. O celular dava aquele sinal de mensagem. Parei, fui lá pegar o aparelho para espiar quem chamava por mim. Para a minha surpresa, na tela aparecia a frase "me liga".

Era uma cliente. Daquelas bem chatas e, como alguns já devem estar pensando, inoportunas. Cara, como assim? Dei-m ao trabalho de responder "estou fazendo a janta, é urgente?". O silêncio dava retorno...

Aquilo ficou ecoando dentro da minha cabeça. Era muito abuso. E por mais que eu não estivesse fazendo a janta - e nem jantando - aquilo parecia algo fora do comum. Onde estaria o bom senso daquela pessoa? O que de tão importante ela teria para me dizer às 9 da noite? E se era tão importante assim, porque não respondeu? Seria tão simples enviar a mensagem para que eu pudesse ter acesso no momento em que estivesse disponível.

Enfim... após aquele episódio, cheguei a uma conclusão: cliente só tem o direto de ser chato quando pagar por isso. E, definitivamente, não era o caso dela. Pelo contrário.

Após aquela situação, nossa relação ficou um tanto estremecida. Isso porque eu já estava de saco cheio das ordens e horários inoportunos daquela senhora. Ora, ela que fosse tratar a sua ansiedade com o profissional adequado. E não seria eu!

Eu, apenas, estava organizando o conteúdo das redes sociais e do blog da nova marca que ela estaria lançando.

Grosseira, inoportuna, mandona e, por vezes, mal educada. Esses são alguns adjetivos da minha ex-cliente. E o sangue quente correndo nas minhas veias ficava, a cada troca de e-mail, ainda mais quente.

A paciência e o profissionalismo de não deixá-la na mão iam ficando cada vez mais escassos. E ainda era mau pagadora. Ninguém merece!

Ela era chata. Coitada... e chatos devem pagar para serem chatos. O tempo foi passando e, claro, a implicância foi surgindo. Ah, motivos eu tinha. E de sobra.

Todos os dias dava aquele suspiro antes de abrir os e-mails. Sempre detestei trabalhar assim. A coisa deve fluir, ser bacana, tem que dar tesão pra sentar e produzir para o cliente. Óbvio que eu ficava triste, o case era bacana, mas ela não tinha uma lista branca. Estava, a cada dia, liderando o ranking da lista negra.

Pois bem, fui cumprindo meu planejamento acordado dia após dia. Nada além disso. Meu plano já estava traçado: largá-la ao final da ação de lançamento e substituí-la por um novo cliente. Um bem bacana.

E foi o que fiz. Nada além. Mandei um e-mail, bem bonito, informando o nosso rompimento e, claro, não deixaria barato. Falei que não estava acostumada a trabalhar daquele jeito. Educação e parceria acima de tudo.

Ou, se quiser se chato, pague por isso.

Fernanda Rosito é jornalista e sócia-diretora da FR Press.

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