Trinta anos de um amor extraconjugal - e nada secreto

Por Fábio Berti, para Coletiva.net

Fábio Bert - Juliano Verardi

Foi amor à primeira vista! Daqueles arrebatadores, descoberto nem tanto ao acaso, na flor da adolescência. Certamente influenciado pela exigência familiar de requintar redações com detalhes descritivos e, é claro, pela curiosidade que sempre me instigou, característica essencial para a minha escolha. Aos 16, entrei na faculdade e imediatamente fui seduzido por quem viria a se tornar meu companheiro de vida já há três décadas... minha profissão, o Jornalismo!

Ao celebramos as bodas de pérola em 2023, eu e ele, temos boas histórias pra contar. Algumas, mais picantes, é melhor manter na intimidade do casal. Mas a maioria é perfeitamente publicável, a quem possa interessar. Já vivemos muitas aventuras e até desventuras. Já passamos juntos pelo ritual da primeira entrevista, da primeira entrada ao vivo, da primeira viagem em pauta, da primeira denúncia, do primeiro pedido de demissão por entrevistado que não gostou da verdade publicada pelas minhas mãos e minha voz. Já passamos juntos por todos os meios de comunicação até hoje criados, pela máquina de escrever com papel carbono entre as laudas, pela câmera com VT separado, pelo gravador de fita cassete, pelo laboratório de revelação de filmes de 36 poses, pelo 386 com sistema DOS e impressora matricial. E chegamos juntos às redes sociais.

Juntos também enfrentamos o preconceito. Aquele que se referia à vocação empreendedora e à atuação institucional do jornalista. Já fui empregado dedicado e já tentei ser empregador. Sempre respeitando os ritos e peculiaridades de cada uma dessas posições. Já enfrentei o preconceito, contribuindo para ampliar os espaços das mulheres em nossa profissão, em especial, em uma área historicamente machista: o jornalismo esportivo. Já enfrentei o preconceito até de colegas, que insistiam em ensinar no ambiente acadêmico somente a técnica e não a ética e demais possibilidades da comunicação, como a capacidade de promover a inclusão social.

Nessas três décadas, tenho sido um aluno aplicado e sempre interessado na atualização. Pois dependemos disso para seguir no mercado de trabalho, e ainda, porque temos a obrigação de compreender a dinâmica dos melhores meios para seguir levando a mensagem até o público; só que agora também dispostos a interagir. 

Em quase metade dessas três décadas, tenho sido um professor dedicado. Procuro sempre despertar nos futuros colegas a responsabilidade que assumem enquanto comunicadores e, em paralelo, a satisfação de cumprir um papel extremamente relevante de alumiar os caminhos da humanidade. Sem dúvidas, o Jornalismo tem sido, ao longo da história, um guardião da liberdade, dos direitos humanos e da democracia.

Dizem que os relacionamentos que resistem aos desgastes naturais do tempo permitem aflorar sensações recompensadoras, como serenidade e confiança. É assim que me sinto em relação ao meu companheiro, com quem convivo diariamente em relação extraconjugal. O fato de a minha esposa, Carine, não demonstrar ciúmes dele - mesmo com minha atuação em três turnos - me motiva, ainda mais, a agir de igual maneira com meu 'amante' e desejar compartilhá-lo com o maior número possível de pessoas. Com esse amor altruísta, pretendo e seguirei empenhado para que todo o planeta também se apaixone pelo Jornalismo. Que alguns possam recebê-lo também como vocação. Para todos os demais, que possam extrair o seu melhor sumo, aquele essencial à vida contemporânea pacífica e civilizada: a informação traduzida por profissionais.

Fabio Berti é jornalista, professor universitário e doutor em Educação em Ciências pela Ufrgs

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