A arte de não forçar o encaixe: Uma reflexão sobre pertencimento
De Duda Liz, para o Coletiva.net

Sabe aqueles brinquedos infantis de encaixe com formas? Normalmente, crianças em torno de dois anos ficam incessantemente tentando enfiar as peças até que elas encaixem nos espaços. Às vezes, a peça em formato de estrela acabava entrando no buraco do quadrado ou a forma de coração passava pelo círculo. Não era o melhor aproveitamento, mas passava. Todos batem palminhas e comemoram a conquista de, pelo menos, ter conseguido fazer as peças entrarem no baldinho.
Desde que a gente decide por um caminho profissional - e, infelizmente, nem todos têm esse poder de escolha - vivemos em busca de encaixes. Muitas vezes, nos deparamos com situações em que forçamos a nossa presença em ambientes, relações, formatos de trabalho e carreiras que não se alinham à nossa verdadeira essência. E aqui eu não falo apenas de espaço físico e social, e sim sobre reconhecer nossas habilidades, valores e o que nos faz ter brilho no olhar.
Recentemente, ao me mudar para Florianópolis, vivi uma experiência que me fez refletir. Ingressei em um ambiente em que a gestão e a cultura não se alinhavam com meus princípios e minha realidade. Percebi que estava fazendo que nem as crianças de dois anos e tentando encaixar a peça de estrela no espaço quadrado, sabe? Poderia até conseguir, mas com algumas arestas machucadas e sem aproveitar todo o potencial que minha peça poderia oferecer naquele espaço. E foi aí que, nesse momento de desconforto, eu recuei. Foi um convite para repensar, reavaliar e revisitar planos que estavam guardados em gavetas. Olhei para as possibilidades que estavam ao meu alcance e, então, entendi que era a hora. Talvez não houvesse hora melhor pra isso. Por mais que os caminhos não sejam óbvios, eu precisava moldar meu próprio encaixe, afinal, quem melhor que eu para saber milimetricamente os espaços que posso ocupar?
Agora, eu sou uma empreendedora. E confesso que tô adorando - apesar desse começo ser extremamente desafiador. Ouvi de uma colega de profissão o seguinte: "Parabéns pela coragem e por entender o teu tamanho nesse universo de possibilidades".
Essa reflexão não é para converter ninguém ao empreendedorismo, mas, sim, para incentivar a pensar sobre o ambiente em que estamos inseridos. É sobre entender nosso lugar, nosso tamanho e, principalmente, o nosso encaixe! Não permita que te machuquem arestas para encaixar em um buraco que não é pra ti - pode até ter alguém que se ajuste ali, mas esse alguém não és tu.
Me conta, tu tá só esquentando a cadeira ou realmente se sente pertencente ao teu ambiente de trabalho?
Duda Liz é comunicóloga e fundadora da Plurális.