A ditadura do microfone

Por Gilberto Jasper, para Coletiva.net

Jornalista detesta ser criticado, mais que qualquer "mortal comum". Somos pródigos em apontar o dedo para flagrar equívocos e incoerências alheias. Raramente cultivamos o saudável exercício da humildade para reconhecer erros. Tanto que pouquíssimos veículos de comunicação publicam/divulgam correções. E nunca houve tanta fake news por aí. A maioria corrige em decorrência de decisão judicial ou de forma discreta.

Minha trajetória profissional é ligada à imprensa escrita, o tradicional canetinha. Trabalhei pouco tempo em rádio. A estreia foi em Lajeado, nas rádios Independente AM e Tropical FM. Depois em Santa Cruz do Sul nas rádios Gazeta AM e FM. Foi uma experiência fantástica. Meu sonho é ter um programa periódico para palpitar sobre tudo.

Apesar desta paixão, fico indignado com veículos eletrônicos que cometem erros, mas ignoram retificações. As injustiças se agravam porque no rádio a repercussão é imensamente na comparação com veículos impressos. Em Porto Alegre causa ojeriza o comportamento de determinado comunicador que tem, na democracia, apenas no discurso. Faz do seu espaço uma arena para avacalhar seus desafetos.

Há cerca de dois anos tive o "topete" de retificar uma informação veiculada num programa de grande audiência matinal. E, depois, fazer uma crítica velada - numa mensagem privada a um colega que me "dedurou" - referente a determinado comportamento adotado pelo apresentador. A partir daí fui defenestrado de qualquer citação ou veiculação de conteúdos remetidos e dicas de notícia.

A soberba, a arrogância e a falta de humildade são características de muitos colegas "da latinha" (não só deles, é bom assinalar!). Usam o microfone para destilar mau humor, perseguir quem não reza por sua cartilha. Sem falar na prática da "cultura do achismo".

Dar opinião sobre absolutamente tudo é mania disseminada em nosso meio. Muitos comunicadores convenientemente "esquecem" que nossa função principal é informar. Análises são prerrogativas, em primeiro lugar, dos ouvintes, razão de ser da mídia. E depois de comentaristas especializados. Muitos "pilotos de microfone" viajaram pelo mundo a trabalho, mas foram incapazes de assimilar algum resquício de cultura. Sem falar da macarrônica e bizarra pronúncia de termos estrangeiros, principalmente do inglês, tão comuns de ouvir.

Produzir um "índex" de ouvintes vetados denota nítido viés ditatorial. Dar voz e vez a quem pensa diferente é parte do mundo da comunicação. O caráter transformador brota exatamente do contraditório que enriquece o debate o conteúdo veiculado. Condenar a audiência ao calvário do pensamento único é falta de ética.

Quanto maior a diversidade de pontos de vista, mais ricos e variados é o produto final levado ao público. Tutelar quem ouve rádio é prova cabal da falta de inteligência e de liberdade.

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