A representatividade é feita por todos

Por Ariel Martins, para Coletiva.net, em espaço Diversidade e Comunicação

Ariel Martins - Arquivo pessoal

Estar no mercado publicitário para mim é motivo de ressignificação profissional e pessoal. Lembro até hoje da aula de Direitos Humanos em que o professor me chamou entre vários alunos na sala (e eu no fundo) e perguntou "Ariel, por que existe desigualdade no Brasil?". E com toda a minha experiência de vida expliquei que nem todos iguais a mim tiveram a mesma oportunidade que tive de focar nos estudos e não desviar do caminho. Claro, há muitos outros tópicos que poderiam ter sido destacados naquela aula. Mas a pergunta que martelou na minha cabeça foi "por que ele perguntou para mim entre outros alunos presentes na aula?" Para responder à essa pergunta me lembrei da introdução da música Capítulo 4 versículo 3 dos Racionais MC's: 

"Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros". Pesado, né?

Para falar um pouco da minha trajetória na publicidade, não posso deixar de falar sobre diversidade: qual a importância dela no mercado e na sociedade? Nesses 6 anos de jornada dentro do mercado de comunicação eu não posso me queixar do quanto de gente incrível e competente eu já presenciei e conheci. Mas se eu disser para vocês que foram poucos que me inspiraram a ponto de poder me espelhar nelas, vocês acreditam? A falta de lideranças negras dentro das agências de publicidade é notória hoje em dia, principalmente no sul. Foi aí que coloquei como propósito pessoal mostrar a importância da diversidade na comunicação. E como um bom nerd que sou, aproveitei o hype da época (2018) e analisei o impacto do filme Pantera Negra sobre o público. Lembro ser fenomenal ver pessoas negras se sentindo representadas e afirmando que todos nós podemos ser reis e heróis. Agora imaginem o impacto que as campanhas pensadas por pessoas pretas iam gerar na grande massa? No momento em que existir igualdade de tratamento entre os diversos públicos na comunicação, certamente esses públicos estarão bem mais representados. É sobre justiça social, um assunto que deve ser debatido por muitos anos.

É necessário normalizar a pele preta no mercado de publicidade. Pois publicidade é o arauto estético desse país! Era isso que eu queria para mim: dizer que eu posso ser um líder, apesar do mercado ter olhos apenas para o padrão.

Entretanto, com o pouco tempo de carreira na área, acho que consegui inspirar alguém. Saber que minha afilhada começou a cursar Publicidade se espelhando em mim foi um marco na minha vida. Como os jovens dizem, é sobre isso! Diversidade é mostrar que há espaço para pessoas negras, trans, indígenas, homossexuais... Que há lugar pra todos!

Nós, como profissionais de comunicação, devemos atuar como agentes transformadores da sociedade, fazendo a publicidade espalhar os interesses sociais para estreitar os laços com o seu principal público, os consumidores. Foi o juramento que fiz ao me graduar, é o que exige a atividade publicitária nesses novos tempos.

Ariel Martins é publicitário, community manager na agência VMLY&R, em São Paulo

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