Adaptação e transformação: reflexões estratégicas sobre o "novo estado de realidade"

Por Alex Nascimento

                                                                 

Hamel e Prahalad, dois importantes estudiosos da administração competitiva, diziam há algum tempo, que a competição no futuro se daria a partir da capacidade de adaptação e de transformação das organizações.

Para os autores, o futuro, e suas incertezas, iriam impelir às organizações uma necessária e impiedosa capacidade de se adaptar às contingências do mercado, e às mudanças culturais e de mindset dos consumidores. Segundo eles, as empresas competidoras do futuro saberiam extrair conhecimento e informações dessas adaptações para reformularem e transformarem suas propostas de produtos e serviços.

O que vivemos em 2020 é a tangibilização desse pensamento. Fomos impactados por uma pandemia. Crise na saúde, econômica, social, política, ideológica e até mesmo espiritual. Em meio a esse "novo estado de realidade", a adaptação se fez mais do que necessária.

Tiveram e terão mais êxito nesse objetivo as empresas que de alguma forma foram se moldando através do tempo, criando soluções que as tornaram convenientes e necessárias na vida das pessoas. Tiveram e terão êxito também, micros, pequenas, médias e grandes empresas que se permitiram repensar o próprio negócio, transformando suas entregas, às vezes com soluções que nunca ousaram pensar. "O comprometimento e a perseverança da organização são impulsionados pelo desejo de modificar a vida das pessoas - quanto maior a mudança, maior o comprometimento."

O momento é de aprisionamento, mas também de liberdade. Nunca foi tão necessário para continuar competindo pelo presente e pelo futuro, criatividade e visão complexa de realidade. De fato, enxergamos o rompimento dos mundos físico e digital. A realidade se tornou híbrida, e a transformação dos modelos de operação afetaram setores tradicionais da economia, e rapidamente transformaram hábitos de consumo das pessoas independente de suas idades. "A competição pelo futuro é uma competição pela participação nas oportunidades, e não pela participação no mercado."

Para entender o que é importante para alguém, devemos viver e nos colocar na mesma perspectiva que esse alguém. Isso gera valor. Isso é valor. Essa é a adaptação mental que as empresas precisarão em um curto espaço de tempo estimular e desenvolver com seus profissionais e executivos. No Brasil, estamos vendo exemplos de empresas que entenderam esse momento, e que sabiamente mudaram o seu discurso, e até mesmo a sua oferta. Mas também estamos vendo, empresas que estão preocupadas apenas com os resultados a curto prazo e se esquecem que "reputação" também é um ativo de valor para a competitividade no seu futuro.

A tônica do mercado, inevitavelmente mudou. Não se trata apenas de vender lenços, como muitos estão dizendo por aí. Se trata em ser útil e conveniente. Repensar o quanto a sua empresa e marca podem solucionar as lacunas e feridas abertas nas vidas das pessoas. Isso exigirá uma profunda capacidade das empresas e seus profissionais, se colocaram no mesmo nível e estado de realidade das pessoas, da grande massa. Isso é o mais completo exercício de empatia pelo qual poderíamos passar. 

Alex do Nascimento é Sócio e Head de Estratégia da Sunbrand e Head de Planejamento na TWF/COMPETENCE.

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