Amizades para sempre

Por Antônio Goulart, para Coletiva.net - Especial Dia do Amigo

A pauta proposta por Coletiva.net tem a ver com o Dia do Amigo, a ser comemorado neste sábado, 20.  Nada mais apropriado, a meu ver, que um comentário, mesmo superficial, sobre o livro de memórias de uma russa-francesa, Raïssa Maritain (1883-1960), que tem o sugestivo título de  'As Grandes Amizades' (Les grandes amitiés). Obra publicada em 1941, que li há mais de 50 anos, mas que marcou minha juventude.

O sobrenome da autora vem do filósofo Jacques Maritain (1882-1973) com quem a escritora foi casada durante 56 anos, formando uma das mais influentes duplas de intelectuais católicos da França no século XX. Ambos se conheceram como colegas na Sorbonne. Tudo começou como uma simples amizade.

O primeiro encontro ocorreu, conforme ela relata, quando, um dia, saía, melancólica, de uma aula sobre psicologia vegetal, e foi abordada por um jovem de olhar doce, abundantes cabelos louros e uma barba discreta. Ele a convidou para participar de um comitê de universitários que organizavam um momento de protesto contra os maus tratos que os estudantes socialistas russos eram vítimas em seu país.

O livro, com mais de 400 páginas, tem como personagens recorrentes, entre muitos outros, três escritores, amigos mais próximos do casal Maritain: Ernest Psichari (1883-1914), Charles Péguy (1873-1914) e Léon Bloy (1846-1917).

O segundo capítulo é todo dedicado a Paris, cidade que a acolheu ainda jovem, e à qual se dirige como se fosse uma pessoa: "Tu que alimentaste minha alma de verdade e de beleza; tu que me deste Jacques e meu padrinho Léon Bloy e tantos outros amigos que embalaram os dias de nossa vida."

Jacques Maritain, depois de perder a amada Raïssa, viveu mais 12 anos como um autêntico monge, em um convento em Toulouse. Seis meses antes de sua morte, aos 90 anos, disse em uma entrevista ao escritor brasileiro Antônio Carlos Villaça (1928-2005): "Sou um religioso de votos perpétuos. Minha única atividade é rezar. Mais do que nunca, sou o que sempre quis ser, um contemplativo."

Raïssa Maritain, na abertura de sua mais importante obra, deixou este sintético registro: "Nossos amigos fazem parte de nossa vida, e nossa vida explica nossas amizades." (Nos amis font  partie de notre vie, et notre vie explique nos amitiés).

Antônio Goulart é jornalista.

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