As instituições também dizem a verdade

De Fabio Berti, para o Coletiva.net

Na era das redes sociais digitais, em que hipoteticamente cada pessoa tem seu próprio veículo de comunicação, está aberto o debate sobre a importância do jornalismo profissional e, por consequência, da imprensa para propagar informações. Vítimas que somos da infodemia provocada pelas fake news em grande escala, a reação lógica seria valorizarmos como nunca os veículos 'tradicionais'. Um novo fenômeno, entretanto, propõe uma importante reflexão: a qualificação da comunicação nas instituições criou uma linha direta com o público, permitindo esclarecimento e interatividade.

Lá se vão três décadas desde a minha primeira experiência em comunicação institucional. Século passado, portanto! Um lapso temporal que representa uma eternidade se o parâmetro for o avanço tecnológico com impacto na comunicação social. Os departamentos responsáveis ainda eram denominados Assessorias de Imprensa, cuja finalidade seria justamente fortalecer o papel dos veículos tradicionais. Passei pela área privada, esportiva e pelos três Poderes e pude vivenciar uma grande (r)evolução nas estruturas de trabalho. Certamente, impulsionada pela percepção das instituições de que a comunicação é elemento prioritário nos planejamentos estratégicos institucionais, seja nas empresas, nas entidades e, especialmente, no setor público.

Vivenciei avanços gigantescos no Executivo, no Legislativo e, agora, no Judiciário. Estruturas de comunicação fortalecidas por profissionais de primeira linha, integração das áreas da comunicação (Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, Marketing, Design e afins), criação de estúdios multimídia. Tudo isso voltado a fortalecer a relação com os públicos específicos e a população em geral, com base na transparência do serviço público, na função educativa e na ética profissional.

Tenho evidenciado que as pessoas não desejam apenas ser informadas sobre eventuais problemas na atuação do Poder Público, mas anseiam conhecer melhor o seu funcionamento, as boas práticas e o valor dessas instituições para a preservação do Estado Democrático de Direito, tão frequentemente ameaçado em nosso país. Ressalto aqui, enquanto jornalista e cidadão, que todos os desvios de conduta, todas as práticas equivocadas, enfim, todas as mazelas nas instituições públicas devem ser denunciadas e amplamente divulgadas. É a essência do jornalismo. Entretanto, é fundamental que a sociedade conviva também com a perspectiva do acerto, da competência das pessoas, da prestação de serviço eficiente e da ampla interação, o que é proporcionado a partir dessas novas estruturas institucionais que aqui qualifico como uma verdadeira oxigenação na comunicação social.

Faço menção especial ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que constituiu uma Direção de Comunicação Social, integrando as áreas de conhecimento e os antigos setores específicos em torno de uma Redação Conectada - que denomina o formato de atuação e um dos principais produtos jornalísticos do Judiciário gaúcho voltado às redes sociais, cuja audiência já ultrapassou a marca de dois milhões de visualizações e centenas de milhares de interações em menos de um ano "no ar". Destaque também para as transmissões ao vivo dos júris populares de casos com alta repercussão no estado. São mais de 15 milhões de visualizações, um apelido dado pelos seguidores - Juriflix - e diversos prêmios regionais e nacionais pela inovação da iniciativa.

Para não perder o hábito acadêmico de teorizar, me vem à mente um contraponto entre a "esfera pública" de Jürgen Habermas e a "comunicação pública" de Jorge Duarte...

Habermas entende que a esfera pública representa uma dimensão do social que atua como mediadora entre o Estado e a sociedade, na qual o público se organiza como portador da opinião pública. Mas para que a opinião pública seja formada, tem de existir liberdade de expressão, de reunião e de associação. Por consequência, o acesso a tais direitos deve ser garantido a todos os cidadãos. Confesso que estou com dificuldades para vislumbrar essa garantia na atualidade.

Já para Duarte, a comunicação pública deve incluir a possibilidade de o cidadão ter pleno conhecimento da informação que lhe diz respeito, inclusive aquela que não busca por não saber que existe, a possibilidade de expressar suas posições com a certeza de que será ouvido com interesse e a perspectiva de participar ativamente, de obter orientação, educação e diálogo. Tenho percebido claramente essa busca e esse compromisso no trabalho das 'assessorias'.

Frente a tudo isso, vislumbro um cenário positivo para a comunicação social. Respeitados os preceitos técnicos e éticos de cada área e de cada profissão, não há como desconsiderar o amadurecimento das instituições e uma nova perspectiva de mercado de trabalho qualificado em tempos de desvalorização da formação acadêmica e fechamento de cursos de graduação. Mas isso é tema para uma próxima reflexão.

Fabio Berti é jornalista e doutor em Educação em Ciências pela Ufrgs

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