Assessor precisa respeitar assessor

Por Gilberto Jasper, para Coletiva.net

Este texto encerra uma pretensiosa trilogia para retratar as agruras da rotina de um assessor de imprensa. A primeira crônica tratou do dia a dia que desconhece horários, ignora feriados e não prevê folgas. São 24 horas à disposição do assessorado e muitas vezes alvo de rompantes pouco civilizados.

A segunda parte tratou do tratamento dispensado por colegas da mídia. Boa parte ignora a nossa função ou requisita nossos serviços apenas em situações de emergência. Este comportamento, porém, se altera quando o jornalista "muda de lado", depois de deixarem a redação para virar assessor.

Hoje quero "inticar" os parceiros que diuturnamente batalham espaço nos veículos através da elaboração de releases, expedição de notas exclusivas e contatos telefônicos. Como acontece em todas as profissões existe gente pouco disposta a ajudar os colegas.

Um caso corriqueiro é o fornecimento do número do celular de uma fonte, autoridade ou informante. Entendo que a montagem da agenda -modernamente rebatizada de network - é resultado de anos da coleta organizada com critério e oportunidade.

É óbvio que não prego a cedência de números pessoais sem a prévia autorização da fonte. Mas é pouco profissional omitir informações banais a colegas mais jovens ou que estejam há pouco tempo na função. Infelizmente, trata-se de um fato comum, fruto da "falta de memória" de quem está há muito tempo no mercado e "esquece" da ajuda que recebeu.

Com frequência, ouvem-se queixas da falta de respeito com o trabalho do assessor de imprensa. O primeiro passo para mudar esta situação é estimular uma relação amistosa entre nós, sem encarar o colega como rival, inimigo ou potencial candidato a nos deixar desempregado.

Em minhas conversas com estagiários e estudantes de Comunicação costumo relatar um episódio que vivi há alguns anos. Um importante órgão público federal fazia uma seleção para assessoria de comunicação do presidente. Feita a "peneira" inicial restaram três profissional, entre eles, este que vos digita.

No dia e hora marcados compareci ao local da entrevista. Antes da conversa decisiva, numa sala de espera, os três candidatos estavam reunidos. Sugeri que pedíssemos o mesmo valor como "pretensão salarial". A proposta foi aceita por unanimidade.

Dias depois, liguei para a secretária que informou que eu não fora o escolhido. "Paciência", pensei, mas, para minha indignação, descobri que um amigo de longa data tinha participado do processo de seleção.

- Quase viramos colegas, hein, Giba! - irrompeu o parceiro de muitos anos.

- Pois é, foi uma pena. É um baita emprego, com estabilidade e peso no meu currículo - respondi.

Com olhar desconfiado, o amigo disparou:

- Mas também, não é? Está certo que tens experiência, mas tu pediste quase o triplo da pedida dos outros candidatos à vaga! O que pediu menos foi o escolhido.

Resumo: é difícil exigir respeito à profissão quando nós mesmos ignoramos as mínimas regras de convivência. É preciso união para fortalecer a classe, obter conquistas e dar dignidade ao exercício da atividade.

Gilberto Jasper é jornalista.

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