Autênticas para ser quem somos: líderes

Por Larissa de Bem, para Coletiva.net

Conheço muitas líderes mulheres. Você também? Experimente perguntar a cada uma delas quais situações já enfrentaram para se encaixar nesse lugar. Essa é uma conversa sobre vida real. E, na vida real, absolutamente todas nós lidamos com isso. 

Certa vez, fui questionada sobre maternidade, porque "um filho atrapalharia a gestão de um projeto e não podia estar nos meus planos naquele momento". Outra vez, pediram para eu ir mais devagar ao começar em uma empresa, porque "a rivalidade feminina é sempre um problema, principalmente entre gestoras". Já aconteceu de ser invisibilizada em reuniões ou rotulada quando me posicionei. Mudei o cabelo e minhas roupas para me aceitar internamente como uma liderança jovem, por medo do que iriam pensar. 

Tudo isso já faz tempo. E esse é apenas um recorte. Há uma infinidade de histórias por aí que falam sobre a expectativa do outro ou sobre crenças e autocríticas construídas dentro de nós. Escrevo hoje não sobre elas, mas sobre o processo de se tornar apesar delas. Toda liderança feminina é carregada de pequenos desconfortos do agora. Eles nunca deixam de nos acompanhar, apenas se transformam à medida que novos espaços são conquistados.

O tempo, generoso que é, vai garantindo, aos poucos, o lidar e o agir. Nos mostra como é importante concentrar os esforços no caminho da autenticidade. Sim, autênticas para ser quem somos. Para não mudar uma vírgula ao liderar. Para questionar. Posicionar-se. E para trazer ao mundo corporativo o pensar com uma lente de gênero. Ainda é preciso - e assim será, por muito tempo. O estudo Women in Business, divulgado pela Grant Thornton no ano passado, mostra que no Brasil hoje ocupamos apenas 38% dos cargos de liderança - embora sejamos mais de 50% da população, segundo o IBGE.

Quando falamos de mulheres em altos cargos de liderança, precisamos também falar sobre as condições para mantê-las nesses lugares. Precisamos falar sobre empresas verdadeiramente comprometidas com essa pauta, mexendo em estruturas, saindo de ações inconscientes e investindo em políticas e programas. E, sobretudo, precisamos falar sobre mulheres fortalecendo o seu protagonismo, porque muito também está nas nossas mãos, mesmo que o sistema, tantas vezes, insista em nos inferiorizar. 

Conheço muitas líderes mulheres. Você também? Experimente perguntar a cada uma delas sobre a potência das suas lideranças. E sobre os ambientes abertos e inovadores no mundo corporativo, na política e nos negócios gerados pela diversidade. Competência não tem gênero, mas precisamos seguir colocando uma lupa sobre as mulheres para desafiar a maneira como as coisas aconteceram historicamente. Essa mudança, que só vem crescendo, é revolucionária. E, pelo bem da humanidade, precisa florescer.

Larissa de Bem é COO da Notório - Estratégia e Reputação 

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