Belém do Pará é quente em todos os sentidos. Há o calor do termômetro ? e nele se esconde um lembrete incômodo da crise climática que vivenciamos. Mas há também o calor humano, das conexões que acolhem e inspiram, que se somam à efervescência de ideias que resgatam tradições para apontar caminhos de futuro. Foi nesse encontro entre temperaturas acima dos 30°C, olhares que aquecem e pensamentos enraizados na ancestralidade que participei do 'Encontro+B Amazônia', o maior evento de negócios de impacto da América Latina do Sistema B, patrocinado em 2025 pela Eyxo.
A oportunidade de conhecer o Norte do Brasil surgiu a partir de um projeto interno que liderei na Eyxo ao longo do primeiro semestre, em meio à rotina como Estrategista de Conteúdo e Marketing de Influência. O processo envolveu nosso time em diferentes fóruns de letramento que culminaram no [B]enem ? uma prova no estilo Enem, mas dedicada a temas de impacto.
A partir dela, quatro colegas foram selecionados para viajar comigo: Janderson Jacques, da Criação; Camila Vidal, do Financeiro; Juliana Maciel, do Atendimento; e Carol Becker, de People. Ao lado dos sócios Andrei Nowa, PC Dias e Greta Paz, também CEO, formamos um grupo diverso que pôde vivenciar a pluralidade de Belém em todas as suas dimensões.
Belém, que se prepara para sediar a COP30 em novembro, é uma cidade de contrastes. De um lado, enfrenta limitações de infraestrutura e a pressão de se organizar para receber um evento global dessa magnitude. De outro, revela com orgulho suas maiores riquezas: a Amazônia como identidade, as feiras que transbordam cores e sabores, os temperos que carregam memórias e as melodias do tecnobrega e do carimbó que dão ritmo ao cotidiano. É um lembrete de que o lugar se sustenta menos no cimento e mais na potência viva da cultura local.
No Encontro+B, a conexão entre floresta, saberes, tradições e comunidade esteve no centro de falas e experiências que uniram teoria e prática. Um dos painéis destacou o conceito de antroposofia ? uma filosofia que reconhece a simbiose entre o ser humano e o meio ambiente, entendendo-os como parte de um mesmo todo. No Pará, essa visão não fica no discurso: faz parte do cotidiano.
Na comunidade Campo Limpo, em Santo Antônio do Tauá, esse equilíbrio já é vivido há duas décadas. Em 2003, a parceria com a Natura resultou na primeira agroindústria de óleos essenciais da região. É de lá que saem a pataqueira, o estoraque e a priprioca ? plantas cheias de aroma e história, que hoje abastecem a indústria de perfumaria e cosméticos.
O modelo adotado garante práticas sustentáveis de cultivo, preservando a floresta ao mesmo tempo em que gera renda. O impacto é visível: casas antes de barro e madeira hoje são de alvenaria ? expressão de um desenvolvimento que nasce da biodiversidade e se sustenta no cuidado coletivo.
Em tempos de crise climática, percebi que nem todo calor representa risco. Belém revelou que o calor humano ? feito de encontros, pertencimento e cultura ? pode ser justamente a resposta de que precisamos: o que fortalece vínculos, abre espaço para futuros sustentáveis e prova que impacto não nasce de um PPT ou de um pitch bem ensaiado, mas no coletivo, no olho no olho, no prato dividido ? mesmo que não seja de tacacá. A Amazônia já mostrou a direção ? a nós cabe aquecer as cidades, mas com o calor certo: aquele que nasce de pessoas, cultura e futuro compartilhado.
Bruna Salgado: Creative Strategist da Agência Eyxo