No mercado de marketing, de branding, de comunicação, não há dúvida, melhor é contratar gente inovadora. Gente atual. Gente arrojada. Gente moderna. Gente singular.

Todas estas palavras - inovador, atual, arrojado, moderno, singular - são sinônimos de avançado. E, aqui, a razão e a provocação deste texto: avançado também significa gente que não é mais jovem, os avançados de idade.

Sempre há debate sobre como tratar pessoas 60+. Velho? Idoso? Sênior? Terceira idade? Prefiro que me chame de Marcelo mesmo, meu nome. Mas, na dúvida, adote, por favor, o "avançado".

Com o conhecimento que a gente adquire na vida, com a tranquilidade de ser quem se é que o tempo ajuda a proporcionar, acredito que o avanço está intimamente relacionado com maturidade.

Tem boas frases sobre isso, basta dar um google.

 "A juventude é uma conquista da maturidade", Jean Cocteau. "O homem chega à sua maturidade quando encara a vida com a mesma seriedade que uma criança encara uma brincadeira",  Friedrich Nietzsche.

A vantagem de ser avançado de idade não é que você deixa de fazer e propor infantilidades, não é que você abandone atitudes joviais - o que acontece é que você está fazendo isso por opção, não por falta de opção.

Entende a diferença? Entender esta diferença é fundamental.

Dando um exemplo bobo e bem prático: qualquer pessoa se diverte muito comendo hambúrguer e fritas, sujando os dedos, ficando todo lambuzado. Chato é quem só come hambúrguer e fritas todo santo dia.

Outro jeito de exemplificar: é divertidíssimo assistir filme de super-herói, assisto sempre, gostei do novo Quarteto Fantástico. Mas, só assistir filmes deste gênero é desperdiçar, por exemplo, todo o Fellini e o Almodóvar inteiro. Não, né?

A ousadia, desconfio, se fortalece com a idade. É um clichê dizer: "ele está em uma idade que só diz o que pensa". Este clichê, de fato, revela um pouco sobre uma certa atitude punk que a idade traz. Os punks que me desculpem, acho que vai além disso.

A ousadia vem, na verdade, de valorizar o que é essencial. De conseguir perceber o que é o âmago da coisa. De não ser deslumbrado com firulas. O poder de síntese se aprimora com o tempo. A capacidade de ser simples é uma grande sabedoria. E as certezas, a maioria das vezes, são primas da vaidade. Os velhos - com rugas, dores, fraquezas, esquecimentos - deixam de ser tão vaidosos, graças aos deuses.

Não significa que envelhecer é se acomodar. Isso, de fato, acontece com muita gente, muitos contemporâneos meus, infelizmente, envelheceram mal, ficaram datados, resmungões, eternos saudosistas dos Beatles ou do Chico Buarque. (Eu amo os Beatles e, mais ainda, o Chico Buarque: chato é amor virar fanatismo.)

Os avançados são os que entendem o valor de seguir em frente, ser ponta-de-lança, jogar "avançado", Messi-Messi-Messi, sempre em direção ao gol. Atuando além de modas e tendências, quase todas inócuas e passageiras.

Gosto do termo avançado, avançado de idade, porque ele, inclusive, dá uma leve sacaneada em gente mais jovem: não adianta querer, aos 30 anos você não é realmente avançado. A mágica é esta: tem que evoluir no calendário pra deixar de ser... antigo (viva as ambiguidades).

Assim, o que é visto como deficiência (envelhecer) passa a ser definido como eficiência. Desenvolver, crescer, evoluir, melhorar, progredir, prosperar e, atenção, clientes, enriquecer - tudo é sinônimo de avançar.

Não vale a pena, portanto, dar força pra gerontofobia, pro ageísmo, pra velhofobia, pra cultura jovemcêntrica, pro idadismo. E vale a pena sim contratar hoje mesmo um yold (young/old). Se for eu, melhor ainda, agradecemos, desde já, a preferência.

Até porque valorizar os 60+ é tremenda prova de sabedoria: todas as projeções de tempo de vida aumentaram muito, continuarão aumentando, todos seremos charmosos longevos.

O etarismo é o único preconceito que você tem com você mesmo, basta chegar o amanhã. Amanhã, que você sabe, tem chegado cada vez mais rapidamente.

Marcelo Pires é criativo e planejador da Ideia da Silva.