DIX: o segundo perfil da Geração Z - e o primeiro alerta para quem ainda confunde alcance com influência
Por Thiago Zahreddine, sócio-diretor da Notório - Estratégia & Reputação

Esses dias, o algoritmo me entregou um ruído da família Hulk.
O que me prendeu não foi o espaço exagerado dado à briga juvenil entre dois adolescentes - como se estivéssemos diante de uma crise internacional. Foram três letras, até então desconhecidas por mim: DIX.
Did I Xpose? - ou, em bom português, "me expus demais?".
É assim que adolescentes e jovens adultos estão nomeando seus perfis secundários no Instagram. Contas paralelas, privadas, destinadas apenas a um grupo restrito de pessoas próximas. Nada de feed curado, vídeos editados ou legendas estratégicas.
O que vai para a DIX é o que é íntimo, real, não filtrado - e, por isso mesmo, valioso. A DIX é uma reação. Uma resposta silenciosa, mas sofisticada, a uma era de saturação performática, onde cada gesto vira conteúdo, cada amigo vira audiência e cada experiência precisa ser validada publicamente. A Geração Z cresceu nesse ambiente. E agora começa a criar rotas de fuga.
Segundo dados da GWI, 62% dos jovens dessa geração afirmam que "privacidade importa mais do que popularidade". E o número de perfis privados no Instagram cresceu 23% em apenas um ano. Enquanto o mercado insiste em campanhas que gritam para todos, a Geração Z está aprendendo a falar para poucos. Não estamos falando apenas de comportamento digital.
Estamos falando de um novo código cultural. A visibilidade em massa perdeu prestígio. Ser visto por todos não significa ser desejado por alguém. Nesse contexto, exclusividade deixa de ser um atributo estético - e passa a ser uma necessidade emocional.
É por isso que a DIX não é uma simples conta paralela. Ela é um espaço simbólico. Ali, o jovem não performa. Ele se preserva. E ao se preservar, seleciona com precisão: quem entra, quem vê, quem participa.
Essa curadoria de acesso é um novo tipo de soft power. Discreto. Mais próximo da diplomacia do que da propaganda. Mais baseado em permissão do que em presença. E aqui está o ponto central: se a influência está migrando do público para o privado, do alcance para a afinidade, então o que isso exige de marcas, lideranças e narrativas?
Certamente, mais escuta e menos discurso. Mais conexão e menos campanha. Mais contexto do que conteúdo. Na era da DIX, o consumidor não quer só o que é bonito - quer o que é dele. E o que é dele, muitas vezes, não aparece no feed.
Se você trabalha com branding, comunicação ou reputação, talvez a pergunta agora não seja mais "como gerar engajamento?". Mas sim: quem confiaria em me deixar entrar na DIX dele?