Humildade e ignorância

Por Gilberto Jasper, para Coletiva.net

O pior defeito do ser humano é a soberba. Em qualquer atividade o brilhantismo profissional é ofuscado pela arrogância que embaça as demais virtudes porque ignora o outro. E submete as demais pessoas à inferioridade, ignorando que somos todos iguais.

 Há mais de 40 anos como jornalista sinto enorme dificuldade em conviver com colegas que idolatram a primeira pessoa, fazendo disso um mantra. Trabalhar em um grande veículo - especialmente eletrônico, como rádio, tevê ou internet de grande reverberação - amplifica a empáfia daqueles que esquecem a função precípua do jornalismo: oferecer elementos a favor e contra para que o público tire suas conclusões.

 Não ignoro os comentaristas que são (bem) pagos para dar opinião. Mas há muito tempo deixaram de ser exceção e se transformaram numa casta que se imagina ungida pelo dom da verdade absoluta. A pandemia que varre o mundo serviu para muitas coisas, como revelar e ratificar a personalidade arrogante de uma legião de comunicadores.

 A gênese da comunicação - a democracia - foi varrida por estes "profissionais". Quem ousa discordar de suas opiniões é ridicularizado, desmoralizado ou sequer tem espaço para falar. Os arautos da liberdade de expressão fazem exatamente o contrário do que pregam. Fecham a porta àqueles que tem opinião divergente. Por isso são escorraçados covardemente.

 O massacre de notícias negativas, porém, já fez alguns veículos da grande mídia alterar sua postura. Lembraram, depois do massacre negativista, que existem muitos curados, pesquisas promissoras, gente que se ajuda e - acreditem, descobriram! - que há pessoas passando fome. Assinaturas canceladas, audiência em queda livre, credibilidade jogada no lixo por birra política e cortes de publicidade contribuíra para esta guinada de enfoque.

 Tenho imenso orgulho em ser jornalistas. Aliás, tenho dois colegas dentro da minha própria família. Mas confesso que sinto vergonha pelo papel submisso e deplorável que alguns colegas adotam do tipo "eu sou o sol, só eu que brilho, só eu sei tudo". Como disse Lao Tsé "quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão".

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