Meu lado mais doce

Por Gabi Lorscheiter, para Coletiva.net, em especial de Semana da Mulher

O que você quer ser quando crescer? Perdi as contas de como escutei essa pergunta na infância. A real, é que nunca tive uma resposta. Aliás, morro de inveja das histórias contadas por alguns comunicadores que entrevisto para a seção Perfil. Confesso que, por vezes, isso já me atormentou bastante, porque ficava aquela sensação "tá, mas então, qual será o meu papel no mundo?". 

A verdade é que sempre quis ser muitas coisas e tenho a sorte de ter uma mãe que sempre incentivou as filhas a fazer aquilo que, antes de trazer dinheiro, trouxesse satisfação. A primeira ideia de quem queria ser nasceu aos 12 anos, durante as aulas de culinária na sétima série. Acabei virando a doceira oficial da família e decidindo que queria fazer Gastronomia. 

Entretanto, chegada a época do vestibular tudo mudou. A única faculdade que oferecia o curso era a Unisinos e a mensalidade era muito cara. Então, parti para as tantas opções que tinha em mente. Tentei Psicologia e Publicidade. Sim, de fato, queria ser muitas coisas. Embarquei na comunicação, de onde não saí mais. No entanto, para alguém que tinha tantas ideias, entrar em uma faculdade aos 17 anos, o risco de querer outras coisas era grande. De fato, aconteceu.

Coincidentemente ou não, chegou um dado momento que minha mãe não tinha mais condições de pagar a mensalidade. Por três anos trabalhei para juntar uma grana e, em 2006, consegui voltar para a sala de aula. Porém, em um novo local e curso. Nascia ali a Gabi jornalista. Percorri o mercado até que parei na agência que me fez resgatar a Gabi que desejava ganhar o mundo com seus doces.  

Meio que sem querer comecei um negócio que, em 2016, após uma demissão, ganhou vida e virou a Didi Cake. Percebi que seria obrigada a arriscar e voltei para sala de aula e me formei técnica em confeitaria. Bom, ir para cozinha era "fácil", mas logo me deparei com os desafios de virar uma empreendedora de fato. Me transformei em várias Gabis. A confeiteira, a gestora, a financeiro, a digital e a vendedora. Mesmo com uma rede de apoio, que verdadeiramente me incentivava, aprendi o quão verdadeiro é a expressão: empreender é muito solitário.

Enquanto me dividia em tantos papéis, precisava lidar com a insegurança e angústia dos olhares preconceituosos por trocar para uma profissão vista por muitos como inferior. Aprendi muito e, de alguma forma, todas as experiências vividas em diferentes áreas que trabalhei me ajudaram. Mas, a frustração começou a tomar conta, seja pela falta de retorno financeiro, como parecer que estava estagnada. 

Foi quando veio a mudança de casa, em maio de 2022. Resolvi dar uma parada até me estabelecer. Em meio a tudo isso, perdi meu chão com a morte minha vó, a Didi. Senti com isso, que era, de fato, o fechamento de um ciclo. Mas, ao completar 40 anos, me redescobri como jornalista. Passei a encarar desafios nunca imagináveis, como uma câmera, e apresentar o (Re)contar, um dos programas do Coletiva.tv.

Amo a confeitaria e fazer as pessoas sorrirem com algo feito por mim, por mais clichê que possa parecer, sempre foi minha maior motivação. No entanto, sabe o que é pior ou melhor, é que continuo querendo ser muitas coisas. 

Gabriele Lorscheiter é jornalista freelancer e apresentadora do Coletiva.tv

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