Não podemos aceitar ataques à profissão

Por José Nunes, para Coletiva.net

Num país onde o Jornalista não defende a profissão, os ataques do maior mandatário, ou seja, o presidente da República, pode até parecer normal, mas no meu entendimento é uma afronta a Constituição e a sociedade brasileira. O levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), divulgado na véspera do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, lembrado em 2 de novembro, é estarrecedor.

Em dez meses de governo foram 99 declarações vistas como ataques a jornalistas (11 ocorrências) e descredibilização da imprensa (88 ocorrências), que visam deslegitimar o trabalho jornalístico, colocando a imprensa e os jornalistas como adversários políticos, ou descredibilizando o trabalho de profissionais e veículos. O mapeamento se refere a dados coletados no período de 1º de janeiro a 31 de outubro deste ano, com base em todas as postagens do presidente no microblog Twitter e no Facebook este ano (as contas são sincronizadas), além das transcrições dos discursos e entrevistas oficiais, que constam no site do Palácio do Planalto.

Em face desses números questiono: até quando os jornalistas e veículos de comunicação vão continuar aceitando e dando credibilidade as declarações de um sujeito que não respeita o papel da imprensa? Faço questão de não nominá-lo, porque escrevo o texto não por uma convicção política, mas sim por uma convicção profissional. Escolhi ser Jornalista, por isso sempre agi dessa forma. Com a cabeça erguida estive à frente do nosso sindicato e tenho orgulho de até hoje ser reconhecido pelos colegas.

Quando um Jornalista escreve algo contra a profissão, não está agindo para desqualifica-la, mas sim para defender seu espaço e local de trabalho, mas acredito que essa não é a melhor forma, até porque os empresários foram colocados no mesmo balaio. Então colegas Jornalistas não tenham vergonha em defender à profissão que vocês escolheram em seguir, se acham que nós profissionais temos privilégios, abram mão deles, mas não venham ocupar espaços privilegiados para agir igual ao mandatário da república. Ou então conceda, direito de resposta a categoria.

É o momento de nós, Jornalistas Brasileiros assumir o papel para o qual prestamos juramento, ou seja, de trabalhar em prol da sociedade. E por fim faço uma provocação, como tenho feito ao longo dos últimos anos. Como você profissional Jornalista se identifica? Com o crachá da empresa? Com o registro na Carteira Profissional? Se são essas as maneiras de auto identificação tenho a certeza que você continuará aceitando o desrespeito e a descredibilização da profissão, porque o crachá é da empresa e não seu e o registro na carteira nem sempre está contigo.

Ao contrário da maioria de outras profissões que fazem questão de usar a sua identidade profissional para se apresentar, nós Jornalistas preferimos o crachá da empresa. Tenha orgulho da tua profissão, ou então aceite o achincalhamento feito pelo maior mandatário que por vezes é chamado de doutor.......... Não podemos aceitar os constantes ataques a nossa profissão é hora de reagir. A nossa derrota é a derrota do Estado Democrático de Direito.

José Nunes é vice-presidente Sul da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e diretor de Interior da Associação Riograndense de Imprensa (ARI).

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