Nomenclaturas e Jabuticabas

Por Rodrigo Ramos, para Coletiva.net

Dizer que o Brasil é um país de peculiaridade é quase um eufemismo. Boa parte das nossas idiossincrasias acaba respingando em nosso espectro político, o que causa algumas adaptações que só a liberdade poética genuinamente brasileira permite. Quem assistiu ao ótimo filme Vice, o qual conta a história de Dick Cheney, um político carreirista republicano que deixa sua calma aposentadoria por obra e graça de inapetência de George W. Bush e vira vice-presidente dos Estados Unidos com poderes mais do que especiais, deve ter dado uma curiosidade na tradução de um termo.

O famoso libtard, que traduzindo mal seria algo como liberalismo excesivo, termo usado pejorativamente para definir a maioria dos políticos e dos partidários democratas, virou esquerdopata nas legendas em versão PT-BR. Acredito que o esquerdista médio ao ver o filme tenha se incomodado mais com qualquer associação do campo gauche com liberalismo do que propriamente com o insulto. Afinal, a esquerdopatia já foi assimilada como um elogio, tal qual mortadela. A exemplo dos times de futebol que eram xingados com apelidos pouco elogiosos e incorporaram isso como ferramenta de defesa e de orgulho.

Claro, não posso generalizar. Alguma voz pode se levantar e dizer que não gosta e não se identifica com esses termos, mesmo sendo convictamente um ser de esquerda. Agora, o interessante é notarmos que um termo associado ao liberalismo é colado na "esquerda americana", se é que isso realmente existe e, por aqui, as ideias liberais são forçosamente entendidas como integrantes do campo de direita ou reacionário. Pois bem, isso em parte torna-se mais gritante quando do surgimento de campanhas e slogans do estilo: "Mais Mises e menos Marx". Devemos lembrar também que há uma grande diferença entre liberal nos costumes e liberal na economia e boa parte das vezes esses dois aspectos do liberalismo não andam juntos.

Por outro lado, para alguns perde-se a noção de que, na maioria das vezes, é melhor um governante republicano do que um democrata para os interesses do Brasil. Claro existem exceções que são tão nocivas no amplo senso as quais fazem essa vantagem ser quase nula. Mas os democratas, liberais nos costumes, são extremamente arraigados ao protecionismo econômico, o que não é uma característica do liberalismo. Isso torna, na lógica rotineira, um retrocesso para a nossa indústria que precisa exportar, tendo de enfrentar taxas e afins. Lembrando: há uma exceção em curso. Finalmente, foge a nossa percepção que eleições não são ganhas em nenhum dos lados. Elas são vencidas no centro. 

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