O lado avesso das redes

Por Balala Campos, para Coletiva.net

Uma possibilidade infinita de conexão e informação nos torna sujeitos verdadeiramente livres? Esta sofisticada tecnologia, que nos convida o tempo inteiro a nos comunicar, a compartilhar, a expressar nossos sonhos e desejos, teria vindo para trazer benefícios à sociedade? Ou haveria em seus subterrâneos outros objetivos não visíveis? À primeira vista, o mundo digital nos parecia uma espécie de paraíso, nos ofertando contatos com pessoas do mundo inteiro gratuitamente, nos possibilitando opinar e nos expormos da forma que quiséssemos.

E quanto à informação? O paraíso estava próximo... a promessa era de que, em pouco tempo, não precisaríamos mais nos atrelar aos veículos tradicionais - jornais, rádios e televisões - para estarmos bem informados. As redes apareciam como espaços onde teríamos uma informação gratuita, rápida, livre e pouco tendenciosa. E assim passamos a ser produtores e consumidores de informação ao mesmo tempo. As opiniões, antes reservadas a pessoas com conhecimento, argumentos sólidos e  acesso a veículos tradicionais de comunicação, passou a ser um direito de todos.

Entretanto, ainda durante a euforia da comunicabilidade gratuita com consequências benéficas para a humanidade, o lado obscuro e avesso do mundo digital começou lentamente a aparecer. Ainda pouco visível, se materializou de diversas formas, indo da eleição surpreendente de candidatos improváveis, eleitos através das redes, até a indústria de fake news, com objetivos políticos, passando pela manipulação e venda de dados dos usuários das redes para o capitalismo mandante. Os efeitos negativos no campo comportamental pelo uso excessivo das redes já é objeto de estudo por especialistas.

Não existem dúvidas. Todo o sistema é feito para nos tornar viciados nas telas. Informar-se corretamente pelas redes, antes uma promessa, tornou-se perigoso neste universo de notícias falsas e/ou manipuladas, espalhadas, em sua maioria, por robôs especializados, comandados por pessoas anônimas.

E ficam as perguntas: será que 3 bilhões de pessoas usuárias das redes podem ficar a mercê de um nome como Mark Zuckerberg, por exemplo? Onde estão os poderes reguladores? Não há interesse em pautar limites e regras? Com certeza, este é um tema que deveria preocupar a todos nós.

Balala Campos é jornalista e assina o espaço Lado Avesso, no Spotify e Instagram.

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