O novo (?) gestor

Por Max Lacher, para Coletiva.net

Nos trabalhos de consultoria que tenho feito ao longo da minha vida profissional, uma coisa vem me chamando cada vez mais atenção, que é a mudança do perfil dos gestores das empresas.

Historicamente, os gestores eram os donos ou aqueles que tinham um conhecimento técnico grande o suficiente para ser galgado a cargo de chefia. E, assim, eles foram evoluindo ao longo do tempo e buscando agregar habilidades e conhecimentos para lidarem com as novas situações que se descortinavam à sua frente. 

Hoje, contudo, estamos vivendo um momento de transição tão significativo do mundo e, por consequência, das empresas, que os gestores vão precisar se reinventar para sobreviver. O mundo se tornou muito mais complexo e as empresas, por meio de seus gestores, continuam tendo que tomar decisões. Como fazer?

A primeira coisa é evitar cair em uma armadilha, hoje difícil de escapar, que é transformar tudo em beta. Transformar as coisas em beta significa que não existe um produto final, que ele está em eterna transformação. Sim, os processos são um continum e estão sempre em transformação, mas, se mal entendida esta situação, as consequências serão catastrófica. Se leio de forma equivocada, esta premissa pode me levar a entender que, dado que tenho que tomar decisões em espaço de tempo cada vez menor, dado que eu posso errar, uma vez que errar não é necessariamente ruim e que faz parte do processo de aprendizagem, tomo decisões mais rápidas, mas com cada vez menos base, pois intuo, nesta lógica, que planejar é algo que só me fará perder tempo. Assim, gestores viram máquinas de tomar decisão. 

Para evitar isso, é necessário que os gestores passem a pensar e refletir mais. Vou dar um exemplo que encontro rotineiramente nas empresas. Muitas delas hoje estão interessadas em implantar big data, pois veem nesta "ferramenta" uma forma de lidar melhor com os dados existentes e, portanto, uma forma de tomar melhores decisões.

A questão, no entanto, é que as empresas ainda não conseguem lidar bem com seus relatórios internos e querem ampliar o processo para algo ainda maior. A consequência disso tende a ter um custo maior, com um processo de tomada de decisão não necessariamente melhor. Percebe-se que as empresas não usam, ou usam pouco, ou usam mal os dados que possuem e que poderia, se bem feito, economizar tempo e dinheiro.  

Indo além deste exemplo, cabe aos gestores de hoje olhar o mundo de forma mais ampla e entender que o processo de mudança que está acontecendo é algo sem precedentes. Não é apenas um avanço da tecnologia, é o entendimento dos impactos dessa evolução na nossa forma de viver, de se relacionar, de pensar.

Imagine você, gestor, tendo que escolher entre contratar um colaborador ou um fornecedor e você tem dois candidatos um humano e outro híbrido (parte humano, parte máquina). Qual escolher? 

Será que você entende a dinâmica de rede que se estabeleceu e como isso pode mudar a estrutura da sua empresa? 

Será que você está dando a real importância para as questões da diversidade, não apenas para discutir no Facebook ou no Twitter, mas entendendo que o mundo vai caminhar para ser mais inclusivo? Tem noção do que isto representa para a sua empresa e as relações que ela desenvolve?

Enfim, será que você entende qual seu propósito? Sabe a que veio ao mundo?

Como se percebe, ao contrário do que alguns gostariam, o gestor terá que ser, cada vez mais, um pensador, aquele que traz luz para a operação. É aquele que possui uma visão macro a ponto de entender o mundo, além das empresas, para ajudar as empresas, e assim, a partir disso, terá condições de discutir melhores caminhos a serem tomados.

A pergunta que fica é: Será que sem alguma senioridade é possível entender e refletir sobre essas mudanças e dar conta de responder às necessidades atuais, ou isso é apenas o choro de um velho gestor?

Max Lacher é publicitário.

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