O papel do líder LGBT

Por Gregório Colla Leal, para Coletiva.net em especial Diversidade e Comunicação

Gregório Leal - Arquivo Pessoal

Esconder a orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho ainda é a realidade da maioria das pessoas LGBTQIAP+. Claro que em alguns ramos mais, outros menos. Mas fato é que ainda não podemos falar de forma geral que a coisa anda como deveria. Seja por medo de perseguição, seja por medo de prejudicar a carreira, muitos profissionais optam por permanecer trancafiados dentro de armários corporativos. Mesmo podendo, na esfera pessoal, casar-se com alguém do mesmo sexo, ou ser bem aceito pela família, para a pessoa LGBT não está assegurado proteger-se de preconceito e discriminação em outras esferas de convivência, como o trabalho. Naquele grande tabuleiro da vida, de plenitude e bem-estar, muitas vezes sempre falta uma peça. Ou várias.

Todo mundo quer trabalhar em lugares onde nos sintamos respeitados, valorizados, incluídos e tenhamos nossas vozes ouvidas. Mas se essas empresas não existem, ou se até existem, mas podem melhorar nesse aspecto, cabe a nós, líderes LGBT, a construção de ações afirmativas de conscientização e transformação, e o estabelecimento de políticas claras de atenção aos direitos LGBTs.. É muito comum a liderança branco-heteronormativo acreditar que não conhecem ou trabalham próximos de pessoas LGBTs e que por isso não há necessidade de implementação de tais ações, afinal, porque investir tempo e dinheiro num público tão pequeno? Se esquecem, no entanto, que as pessoas estão lá, dentro dos armários corporativos.

Não preciso nem dizer pra vocês que isso tá errado de diversas formas. Primeiro porque LGBTs estão na indústria da moda e na do carvão. Pilotando fogões e caças do exército. Nos tribunais e nas quadras de samba. Segundo porque ninguém consegue ter a melhor performance que poderia se precisar se ocultar, apagar, disfarçar, mutilar. Não há talento que transponha o muro da opressão sem ralar o joelho na hora do pulo. Perde o trabalho, perde a empresa, perde ainda mais o colaborador que vive pela metade.

Mas o terceiro e talvez maior motivo pelo qual está errado não contratar e respeitar pessoas LGBTs nas empresas, principalmente se estamos falando das indústrias criativa, de comunicação e de inovação, é que não existe criatividade sem diversidade. E isso não é opinião, é ciência. Quanto mais visões, experiências, repertórios, dados, ferramentas e talentos forem somados às equipes de trabalho, mais peças existem no tabuleiro para se chegar em novas ideias e soluções para os problemas corporativos.

Estar em um papel de liderança é ter um microfone nas mãos, pra poder explicar, sempre que for preciso, todos esses pontos. Mas também é ter o poder de agir, na prática, para transformar essa realidade. É muito importante ser um líder autêntico e engajado. Mas é preciso que tudo seja feito de forma prática, que transforme a realidade. Seja na busca ativa pelos profissionais LGBTs, seja no jeito de publicar as vagas de recrutamento, nas políticas de RH, em levar visibilidade para essas pessoas na comunicação das marcas que atendemos, nos benefícios de licença paternidade/maternidade para casais homoafetivos, no apoio a funcionários trans, etc. Criar uma rede de apoio e troca de experiências é fundamental. Sua empresa vai se tornar um lugar mais humano e seguro, mais diverso e criativo, mais exitoso e lucrativo.

Gregório Colla Leal é diretor executivo de Criação da HOC - House Of Creativity. 

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