Onde estão as mulheres negras para Comunicação?

Por Luana Daltro, para Coletiva.net em especial Diversidade e Comunicação

Luana Daltro - Arquivo Pessoal

Quando analisamos a história, compreendemos que a formação da nossa sociedade foi dividida racialmente. As pessoas negras, em sua maioria, ocupam cargos de subalternidade, possuem renda mais baixa e vivem em áreas afastadas das regiões centrais e violentas das cidades. Enquanto, há uma normalidade e naturalidade em ver pessoas brancas opostas a estas condições - um reflexo da forma como a branquitude se sustenta na sociedade. Ao identificarmos este cenário, entenderemos que em todos os âmbitos sociais, culturais e econômicos teremos esta ótica sendo projetada. Um reflexo do racismo estrutural que estrutura e é estruturante das ordens sociais.

Como Comunicadora penso diretamente sobre o impacto que a comunicação tem para a sustentação deste cenário. Os meios de comunicação são reprodutores das escalas sociais e produtores de sentido, pois constroem novas narrativas sobre os atores sociais e têm o poder de corroborar com estereótipos. Desta forma, a comunicação ocupa um papel central como poder para as representações sociais de corpos negros. Em especial, destaco as mulheres negras, que estão na base da pirâmide social, e ainda carregam estigmas, por isso, vejo como um corpo emergente para mudanças nos meios de comunicação. E, por isso, quero te questionar: em qual lugar você vê mulheres negras na Comunicação?

O que significa ser uma mulher negra na sociedade brasileira

A história da mulher negra na sociedade brasileira não começa de uma forma positiva, e sendo franca, até hoje não temos grandes feitos a comemorar. A exposição das características corporais de mulheres negras escravizadas pode ser vista em diferentes sentidos. Foram examinadas como um corpo exótico a ser explorado e caracterizado como diferente biologicamente do homem branco. Ao analisar a forma como a mulher negra é vista na sociedade pós-moderna, identificamos nitidamente fragmentos desta construção feita no imaginário social da época: uma mulher que é vista somente de forma laboral, e quando digo isso, são atividades de força corporal, como empregada do lar, de limpezas urbanas, auxiliares de serviços gerais, dentre outras. Além disso, podemos ver que a sua representação nos meios de comunicação reforça a imagem da mulher negra escravizada, que em muitas pinturas, era somente retratada com poucas peças de roupa ou aquelas que eram vestidas dentro do padrão branco da época. E, ao analisarmos as narrativas atuais, conseguimos perceber ainda este modo de caracterizar a mulher negra.

Ser uma mulher negra numa sociedade racista, que utiliza mecanismos institucionais para estruturar a reprodução do seu sistema, é doloroso. Afinal, as opressões sofridas são sentidas duplamente, enquanto gênero (mulher) e raça (negra) na sociedade. Os marcadores sociais que caracterizam pessoas negras ganham ainda mais peso, pois são somados à raça negra. Ao pensar de forma interseccional, sabemos que a mulher negra por ocupar cargos de subalternidade, também, em sua maioria, assume o marcador de classe. Por isso, ao falar sobre mulheres negras, é importante olhar sobre um viés interseccional, compreendendo que são os múltiplos recortes que a constroem na sociedade. Gosto de enfatizar este ponto, pois quando falamos sobre igualdade de gênero esquecemos que as mulheres negras ainda não alcançaram os mesmos níveis sociais e de oportunidade que uma mulher branca usufruí socialmente e economicamente, então, não há como falarmos sobre avanço na sociedade sem entendermos que é preciso desfazer as barreiras que impedem a mulher negra de caminhar como igual. 

Como a Comunicação produz e reproduz narrativas sobre os corpos negros

A mídia como instituição de poder simbólico é uma importante difusora da opinião pública e pode ser considerada articuladora das transformações nas diferentes visões de mundo por meio do discurso. Os meios de comunicação são responsáveis pela construção e reprodução dos valores que constroem as representações sociais da mulher negra no imaginário social dos sujeitos, e por sua vez, de estereótipos. Além disso, a autora reforça a categorização imposta à mulher negra na mídia brasileira como a mulata e a empregada. Pode-se acrescentar a sambista, e funkeira, a faxineira, que criam imagens e estereótipos sobre essa. 

Essa situação não estabelece uma mudança no discurso da mídia frente ao negro e, por sua vez, mantém seus estereótipos negativos. Por isso, as relações de poder mantém o poder das mídias, porém abrem espaço para o exercício do contrapoder dos sujeitos, principalmente, com a ascensão das novas tecnologias da informação e comunicação, que possibilitam maior fluidez entre as mídias e a participação dos usuários. 

A partir desta compreensão, entendemos o papel central que as mídias têm para a mudança da sociedade. No entanto, ainda vemos dados que apontam que pessoas brancas são as mais representadas em anúncios, protagonizam mais comerciais e peças nas redes sociais. O nosso olhar, enquanto sociedade, precisa ser analítico todos os dias. Desta forma, conseguiremos vencer as estruturas que nos engessam de modificar o nosso olhar e descolonizar o nosso pensamento. Devemos criar mecanismos para vencermos a estrutura do racismo em nossa sociedade. Portanto, precisamos pensar e nos questionarmos: onde estão as mulheres negras na comunicação? E como podemos melhorar esse cenário?

Luana Daltro é relações-públicas com foco em branding, criadora de conteúdo digital sobre a temática racial e é consultora sobre Comunicação e diversidade racial. 

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