Passado e presente interligados

Por Layla Moura Alves, para Coletiva.net em especial Diversidade e Comunicação

Layla Moura Alves - Arquivo pessoal

Existe uma íntima relação entre o passado histórico do povo negro e o presente. A história desse povo no Brasil vai se refletir na sua trajetória profissional em qualquer âmbito do mercado. A ascensão profissional do negro acaba sendo muito diferente do não-negro em uma empresa. Sendo assim, acredito que a discussão da desigualdade começa com a história do primeiro tumbeiro em solo brasileiro. 

Apesar das mudanças dos últimos tempos, a inserção no mercado de trabalho permanece sendo um fator central para a construção de identidade, definição do padrão de sociabilidade e, principalmente, para obter recursos que permitam suprir as necessidades básicas de forma individual. Para a população negra, o acesso ao mercado de trabalho é pressuposto para encarar uma realidade de privação a que historicamente foi repudiada. 

Falando sobre o mercado da Comunicação, existem alguns entraves enfrentados pela população negra para esse acesso. Acredito que, por ser um mercado que envolve indicação de pessoas, precisa-se possuir contatos que muitas vezes são desafiadores de se conseguir. Se há um funcionário branco, que indica o colega da faculdade que também é branco, essa dinâmica acaba sendo algo difícil de driblar. Nesse contexto, também compreendo que o racismo estrutural que permeia nossa sociedade se torna um fator decisivo no momento de eleger alguém para uma vaga em uma empresa ou agência. 

E é a partir daí que a ideia de diversidade surge para trazer a minoria para dentro do ambiente profissional que historicamente pertence à maioria. Djamila Ribeiro, filósofa, feminista e acadêmica brasileira que publicou seu livro chamado 'Pequeno Manual Antirracista' (2019), afirma que "a baixa presença de pessoas negras no ambiente de trabalho, ou mesmo distante de cargos de gerência, pode deixar o espaço altamente suscetível a violências racistas". O racismo assume diversas dimensões num ambiente de trabalho, o que demanda análise constante de práticas corporativas em relação a essa questão. Por causa disso, diversas empresas têm buscado consultorias especializadas para rever sua política de diversidade.

Por fim, vale ressaltar que existem agências que estão se mobilizando para reverter esse cenário desigual que vivemos dentro do mercado publicitário. A Eyxo, por exemplo, que é a agência que eu trabalho como diretora de contas, realiza práticas que contribuem para a construção de um ambiente mais diverso e plural: contratação de pessoas negras, possuir um GT (Grupo de Trabalho) antirracista e a leitura coletiva do livro manual antirracista. Por meio de tais ações, é possível perceber que estamos evoluindo a passos lentos, mas estamos. O meu desejo é que essas práticas possam reverberar para todo o mercado da comunicação.

Layla Moura Alves é publicitária e diretora de contas na Eyxo

Comentários