Por amor a mim

Por Ilana Xavier, para Coletiva.net, em especial de Semana da Mulher

Colocar-se como prioridade na própria vida não é uma tarefa daquelas que a gente dá check todos os dias. Escrever uma reportagem, pagar um boleto, entregar um capítulo do TCC e estudar sobre os movimentos de mercado sempre me pareceram compromissos mais atraentes do que o autocuidado. E foi assim durante cinco anos. Dos 19 aos 24 anos. 

Quando entrei na faculdade, uma chave virou em mim. A única coisa que importava era sobreviver até a formatura. E sobreviver mesmo, porque foi exatamente isso que aconteceu. A cada novo semestre, as dívidas vinham como uma onda que me guiava para um mar de estresse absoluto, ansiedade sempre em maré alta e compulsão alimentar. Esse cenário me vendava diante do que estava bem na minha frente: o espelho e os check-ups de rotina. 

E quando tudo parecia estar acabando, veio a monografia para liquidar com a saúde que me restava. A cada capítulo do TCC, um rodízio de pizza como recompensa. E não pensem que eu me culpava, ok? Com vários jobs ao mesmo tempo e vivendo num caos absoluto, algo precisava baixar minha adrenalina. E, hoje, depois de tudo, tendo perdido 60kg em pouco mais de um ano, confesso que, olhando para trás, eu sigo não encontrando outra saída para aquela garota com mais de 140kg.  

Mas a missão foi cumprida. Formatura realizada. Dívidas quitadas. Diminuição drástica na quantidade de atividades profissionais. Segurança quanto ao dia de amanhã. Tudo isso foi a base sólida que me encorajou a voltar os olhos para mim. E como eu ia deixar de me dedicar à mulher incrível que conquistou tudo que sou? Jamais poderia seguir me deixando como coadjuvante da minha própria jornada. Novamente, a chave virou. 

Eu mudei. Psicólogo, endocrinologista, personal e cura espiritual: os elementos da redescoberta. Conheci uma Ilana viciada em treinar, tanto quanto em trabalho? ou até mais. Minha fuga do caos é 160kg no leg press e partidas de vôlei às sexta-feiras. A competição tá no meu DNA, mas agora é uma luta a favor de mim e não mais para me salvar. 

E longe de mim escrever esse artigo para passar a mensagem de que ser gordo é errado. Nunca. O alerta é: olhe para si mesmo com carinho, se cuide, se trate e busque ser uma pessoa melhor para si mesmo. Encontre novas paixões. Incentive o seu desabrochar para novidades, para o que move a vida positivamente, sem adoecer, sem frustrar.  

Ilana Xavier é head de conteúdo da Be+ Comunicação e coordenadora de Conteúdo Digital na agência Silver Deer.

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