Produção publicitária gaúcha - Tópicos dos anos 80/90

Por Enio Lindenbaum, para Coletiva.net

06/11/2019 15:10

Sem um contexto especial, a produção gaúcha foi andando junto, não na vanguarda nem a reboque das agências de propaganda. A produção entra pela porta ao lado do processo publicitário, mas sempre dando uma resposta adequada à demanda.

Perdeu, na minha opinião, a oportunidade de se aproximar da Argentina e do Uruguai naqueles anos, mercados com profissionais mais completos, e somou a isto, a carência de uma maior exigência por parte dos contratantes, das agências e dos anunciantes. Demorou para mesclar-se com Rio e São Paulo.

Dentro deste cenário, um publicitário diferenciado em termos de conhecimento, vivência e relacionamentos além fronteiras, volta de um curso de cinema nos Estados Unidos e monta uma produtora em uma sociedade com outros profissionais com bastante destaque nas suas profissões. Nasce aí a Sabiá Produções, com Laerte Martins.

Entretanto, o mercado estava "comprando" outras ideias e o números de produções, em que pese a qualidade e engajamento dos envolvidos, era bastante reduzida.

Para tornar o cenário ainda mais desafiador, a RBS fez um altíssimo investimento em equipamentos e contratou uma equipe supertalentosa para criar a RBS Vídeo e buscar o processo de verticalização com produção e exibição.

Saindo do Banco Maisonnave e com brevíssima passagem pelo Banco Meridional, comprei o controle da Sabiá e iniciei uma trajetória que muito me emociona, pois ajudou pessoas e processos a se desenvolverem de forma diferenciada.

Para combater a investida da RBS, criei uma pequena campanha, tímida, mas focada. Com a frase "Quem não tem Talento Mostra Equipamento" fui buscar trabalho e me tornar locador desses equipamentos. Forma da própria RBS viabilizar seu investimento.

Tive um bom apoio do Walmor Bergesch e do Barrichello, que, junto com o Renato Sirotsky, viabilizaram uma parceria que permitiu a expansão da Sabiá para Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

Produtora de comerciais, audiovisuais, campanhas eleitorais, videojornais, conseguimos um destaque nacional ao mesclar equipes e importando mão de obra especializada que "treinava" nossos operadores locais. Esta ousadia (e, por que não dizer, sem ter medo do risco), aliada a um compromisso ético muito forte com o mercado, fornecedores e colaboradores, foi o berço para poder hoje - com a distância e serenidade, contar histórias e estórias que foram e serão sempre o molho da nossa profissão.

Produzíamos, por exemplo, a série ?Gente que Faz para o Bamerindus?. Ao mesmo tempo, usando colagem, fazíamos o ?Gente que se Faz?, o que muito divertia a Umuarama, agência do banco.

Nosso mercado, bastante pulverizado por pequenas e médias produtoras - quase todas tocadas por profissionais criados fora da academia, ou seja, na prática profissional, dava conta das médias produções. Mas o universo conspirava a favor. A Eberle fez um lançamento, a linha Dia a Dia, e com um roteiro diferenciado do nosso grande pequeno criador Michele Caetano, cria um ambiente futurista, estilo Fritz Lang (Metrópoles). A atendimento Dilza de Santi, profissional de reconhecida competência leva a proposta para o engenheiro Américo Ribeiro Mendes (um "Marco Polo", a quem muito este Estado deve em reconhecimento), então diretor da Eberle, que confia e apoia o envolvimento  da Sabiá no projeto.

Com cenário de Fiapo Barth, locação no Cais do Porto, áudio instigante, participação da atriz Imara Reis, as 50 bailarinas treinadas pela também bailarina e coreógrafa Eneida Dreh, caíam como peças de dominó. Um show!

Estreiam na direção publicitária os diretores da Armação Ilimitada, Guel Arraes e Mario Marcio Bandarra. O segundo montou uma parceria muito produtiva para todos, fazendo diversas grandes produções por aqui. Ressalva: grandes para o nosso mercado.

O filme, pouco exibido mas muito premiado, abriu as portas para novas e maiores empreitadas provando a qualidade da nossa produção.

História que segue.

Enio Lindenbaum é publicitário e consultor