Quando interações são automatizadas, conversar com pessoas se torna o novo luxo
De Poli Lopes, para o Coletiva.net

Em janeiro, a Meta anunciou a criação de "usuários" gerados por inteligência artificial em suas plataformas, e eu até comentei sobre isso no Qual é o BO?. Com bios 'reais' e fotos, posts e interações criados por máquinas, eles vão se relacionar com os cerca de 3 bilhões de usuários humanos das redes. Mais do que uma sensação, uma realidade: estamos, cada vez mais, conversando com máquinas.
É sobre esse cenário que a Teoria da Internet Morta trata. Publicado em janeiro de 2025, o estudo "The Dead Internet Theory: A Survey on Artificial Interactions and the Future of Social Media" colocou mais luz sobre essa teoria porque reflete essa nossa percepção de que a internet está se tornando um espaço onde a interação humana autêntica parece em extinção, sufocada pelo conteúdo algoritmicamente otimizado. A Fast Company falou sobre o estudo conduzido na Universidade de Stanford que analisou mais de 300 milhões de documentos online, publicado no repositório arXiv da Universidade Cornell, traz mais luz sobre essa questão, pois mostra o aumento exponencial desse tipo de interação.
Sem humanidade e autenticidade, boa parte da atividade online depende só de algoritmos, automações e IAs programados por pessoas que, depois de setar, podem deixar a máquina 'falar' por elas. Ou seja, ao invés de eu perder tempo comentando no Instagram da empresa, eu posso fazer outra coisa. Parece legal, né? Mas precisamos pensar sobre o impacto dessa morte da internet na forma como as pessoas se relacionam entre si e também como as empresas se conectam com seus consumidores.
IA generativa: e se o robô fizer melhor do que você?
Já aconteciam debates sobre essa 'morte' da internet quando, no final de 2023, a revolução da IA generativa explodiu. Agora temos na palma da mão, literalmente, ferramentas capazes de criar textos, imagens e vídeos iguais aos produzidos por humanos. O que antes estava na mão de grandes corporações, agora é pra todos com acesso à internet e conhecimento sobre a ferramenta.
E de repente, não mais que de repente, tudo virou suspeito. Aquele comentário elogiando um produto? A avaliação de um serviço? Uma opinião polêmica que viralizou? Centenas de comentários elogiando a influencer da moda? Tudo pode ser obra de uma pessoa ou um output de um sistema treinado para maximizar engajamento. E agora, como contei lá no começo, a ideia de introduzir "usuários" gerados por IA nas plataformas da Meta.
Humanidade como diferencial competitivo
Todos os dias, falamos que a comunicação e o marketing são feitos de pessoas para pessoas, mas, do outro lado, estamos automatizando e chatgptzando tudo? Essa conta não fecha! Se a internet parece cada vez mais morta - ou pelo menos, menos humana -, o que resta às empresas? É melhor apostar na autenticidade como diferencial competitivo.
Se o mercado e teus concorrentes oferecem cada vez mais conteúdo genérico e raso produzido por IA, interações automatizadas e experiências padronizadas, foque no toque genuinamente humano. Inclusive, é dessa forma que os pequenos negócios conseguem hackear a internet, pois queremos cada vez mais negócios que ofereçam:
- - comunicação transparente e autêntica;
- - atendimento personalizado feito por humanos reais;
- - conteúdo original que reflita personalidade e valores genuínos;
- - relações de longo prazo baseadas em confiança mútua;
- - atenção e boa experiência no ponto de venda.
Ou seja, precisamos de estratégias mais resilientes, que nos permitam manter conexões genuínas com nossos clientes, independentemente das plataformas de terceiros. Para sobreviver e prosperar nesse novo cenário, precisamos pensar estratégias que considerem:
- ter canais proprietários, como sites, blogs, listas de transmissão de whatsapp, newsletters e podcasts, ativos digitais que, além de permitirem uma comunicação direta com seu público, não sujeitam seu negócio ao funcionamento de plataformas e algoritmos de terceiros.
- humanizar a comunicação e mostrar que há pessoas por trás da marca. Contar histórias, mostrar os erros e acertos, como as coisas acontecem, com toda a beleza e imperfeições do seu negócio. Seu negócio só ganha em autenticidade. Para isso, invista no treinamento da equipe, garantindo que o cuidado que você tem com o cliente na loja transpareça na forma como postam na rede social ou conversam no whatsapp.
- que adquirir um novo cliente é muito mais caro do que manter os que você já conquistou. Aposte em criar conexões reais que gerem relacionamento, recorrência e indicações. No lugar de milhares de seguidores superficiais que apenas veem sua marca passar no feed, foque em construir uma comunidade menor, mas engajada e que realmente se importa com você. Qualidade supera quantidade, sempre.
- que eu não estou dizendo para não ter presença nas plataformas sociais. Instagram, Linkedin e Tiktok, por exemplo, são excelentes pontos de contato para reverberar a comunicação do seu negócio. Mas ao invés de colocar todos os ovos na mesma cesta, estude onde seu cliente está e diversifique a presença digital, sempre direcionando as pessoas para seus canais proprietários, onde o controle da experiência é 100% seu.
Se ver a internet caminhar para um presente-futuro de interações e conteúdos cada vez mais artificiais e, porque não, vazios e rasos, também te incomoda, vamos conversar e encontrar formas de colocar calor humano na equação para manter as conexões vivas e reais. Para isso, a autenticidade humana não é apenas um diferencial - é um salva-vidas. Assim, voltamos a essa obviedade que às vezes parece esquecida: se CNPJs também são feitos por pessoas, logo os negócios são entre pessoas, não algoritmos.
Poli Lopes - consultora e estrategista em presença digital e criadora de conteúdo para marcas e profissionais liberais. Jornalista, Mestre e Doutora em Processos e Manifestações Culturais.- [email protected]