Sua marca também foi infectada?

Por Marcelo Pacheco, para Coletiva.net

Sou um otimista. As pessoas que me conhecem também sabem disso, pois gosto de olhar o mundo com as lentes da oportunidade. Já li e ouvi todo tipo de neurocientista e estudioso falando que se gasta a mesma energia pensando negativamente e positivamente, então, fiz minha escolha. Mas o motivo deste artigo não é para falar sobre mim, é para falar sobre as oportunidades no meio desta crise. Claro, que não há mágica e tampouco positividade que resista a uma loja pequena de portas fechadas, com todas as contas acumulando para serem pagas. Não estou indiferente a isso.

Apesar disso, mesmo na maior crise da nossa geração, vejo iniciativas que estão gerando frutos agora e vão gerar mais frutos lá na frente. Quer alguns exemplos? Um cinema no Texas adotou uma medida interessante: montou uma tela gigante num estacionamento e está passando filmes de graça no bom e velho estilo drive-in. Genial, não? Consegue imaginar a experiência que eles estão gerando para cada usuário? Não tenho dúvidas de que vai mudar a relação emocional deles com a marca.

Não precisamos ir tão longe, você já reparou que as quatro grandes operadoras de telefonia do Brasil se juntaram e estão oferecendo banda larga com franquia de acesso aumentada para você fazer suas reuniões por vídeo, assistir a seus filmes em streaming e as crianças jogarem online? Agora, quando esta crise passar, porque a única certeza que temos é que ela vai passar, como é que vai ser voltar a ter uma conexão com a franquia reduzida? Quem teve a experiência da navegação em maior velocidade não vai querer voltar ao passado. As quatro operadoras, além de angariarem a simpatia dos clientes agora, vão gerar negócios no futuro.

A Magazine Luiza, por exemplo, tem se mostrado preparada para atuar em qualquer cenário. Além de fazer o que o varejo tradicional está fazendo, como frete grátis e descontos em vários produtos, a Magalu, como ela mesmo se denomina, fez uma campanha para convidar lojas pequenas a entrarem em seu marketplace, onde elas podem se beneficiar com a distribuição e ter acesso à gigantesca base de clientes Magalu. Tem mais: você pode se tornar um parceiro Magalu. Isso mesmo! Qualquer pessoa comum pode montar uma loja e vender produtos do próprio Magazine Luiza, ganhando uma comissão por cada venda. O velho modelo da Avon, só que agora aplicado ao mundo do e-commerce. Realmente estão muitos passos à frente de um varejo tradicional.

Um último caso local. Tem uma página no Instagram aqui em Porto Alegre chamada @compradopequeno. Todo dia, esse perfil traz as ofertas do pequeno comércio local que está trabalhando por tele-entrega ou take away. Tenho certeza de que cada um daqueles pequenos comerciantes já foi impactado por clientes que chegaram até eles via essa página. Custaram algumas horas e dedicação de algumas pessoas para contatar os estabelecimentos e, com a ajuda de outras mídias, como o Destemperados, que impulsionou a iniciativa, a coisa tomou corpo.

Agora, vem a bala de prata como se diz: já reparou que as pessoas estão usando TUDO o que está na casa delas à exaustão nestes dias? Aquela televisão que você achava que ia durar mais uns dois anos, já deu para ver que não tem o tamanho que você gostaria que ela tivesse. Aquela batedeira, que sua funcionária reclama toda a semana, agora é sua vez de testá-la e, pelo que se percebe, está mesmo na hora de trocar. Aquele sofá que você só se sentava uma ou duas vezes por semana já não tem mais a espuma confortável para um uso diário. Um país inteiro está tendo contato com produtos e serviços que vão ou não vão fazer parte da vida deles, assim que a situação voltar minimamente ao normal.

Temos os mais variados casos: do Exterior, do Brasil, de grandes empresas e de pequenas empresas. Meu ponto é o seguinte: que tipo de experiência nestes tempos difíceis a sua marca está proporcionando aos seus usuários? O que você está fazendo neste exato momento em que lê este artigo, para mudar esta situação? Quais são as necessidades dos seus consumidores agora? Que oportunidades você enxerga para o seu negócio? Você já tem um planejamento para o dia 1 pós-quarentena? Se você não tem clareza das respostas para algumas dessas questões, uma coisa é certa: seus concorrentes vão se distanciar ainda mais de você.

Em toda a história, os tempos de crise criaram ou mudaram a percepção e o comportamento da humanidade. Não vai ser diferente desta vez. Marcas vão se fortalecer, marcas vão voltar a ter seu papel relevante na sociedade, mas o mais importante que a história nos mostrou é que marcas que se deixaram levar não existem mais. Espero que você opte por continuar entre nós.

Marcelo Pacheco é vice-presidente de Mercado do Grupo RBS.

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