Super poderes para quê?

Por Márcia Christofoli, para Coletiva.net

Dia da Mulher, Semana da Mulher, Mês da Mulher. O dia 8 de março é marcado por uma série de iniciativas, ações, campanhas, lembranças em geral que marcam a passagem de uma data especial. 'Especial para quem?' alguns questionam ano após ano, incluindo o sexo feminino. Para muitos e muitas, a comemoração é apenas uma oportunidade de recordar uma história de lutas, a importância do nosso papel na sociedade atual, além da necessidade de reforçar o tempo todo o quanto machismo, feminicídio, preconceito e outros termos tão ultrapassados - e tão atuais - já não deveriam mais ter espaço.

Bem, o fato é que a data existe e a cada ano levanta uma extensa lista de assuntos e polêmicas acerca do tema. Minha equipe, formada 72% pelo sexo feminino, discorreu sobre o Dia da Mulher ao longa desta semana em artigos especiais, expôs diversos olhares e compartilhou experiências diferentes, vividas sob ângulos diversos. Então, não me cabe gastar este precioso espaço para argumentar o quanto a gente se importa com questões de gênero. Vou falar um pouco de mim e do que isso reflete na minha caminhada. Sim, um texto um tanto quanto egocêntrico, admito.

Aquela máxima "quem me conhece sabe que... blá blá blá" é perfeita para esta frase quando quero começar a dizer que sofro há alguns anos de ansiedade generalizada. Esta não é necessariamente uma constatação negativa, uma vez que é esta característica que me faz querer sempre mais, sempre o próximo desafio, sempre a próxima moda a ser inventada, ou a encrenca em que vou me meter e arrastar algumas pessoas junto comigo.

Mas o que isso tem a ver com o fato de eu ser mulher? Nada e tudo. A verdade é que faço um milhão de coisas ao mesmo tempo (claro que, em diversos momentos - e não raros - não consigo dar conta de tudo). Há quem diga que isso é admirável, outros me sugerem e até me pedem para desacelerar "pois um dia ainda vou infartar", e há também os que são indiferentes, pois se acostumaram com a minha insistente mania de abraçar o mundo com minhas próprias mãos. Com mais de 10 anos frequentando terapia psicoterápica, aprendi a me aceitar e tentar - nem sempre conseguir - encontrar um equilíbrio, ou ao menos um limite.

Por conta disso, desempenho uma série de papéis na vida: filha, irmã, esposa, madrinha de três lindos meninos, jornalista com orgulho, empresária, amiga (e, nesse quesito, muito amiga) e, mais recentemente, preparando-me para o mais difícil e temido papel até hoje: o de ser mãe do Pedro, que deverá chegar em meados de maio.

Sabem o motivo de eu viver e me entregar intensamente a cada um desses papéis? EU ESCOLHI VIVÊ-LOS. Posso ter a liberdade de optar pelo que quero ser e aceitar que, dentro de inúmeras limitações, serei falha, relapsa e fracassada em muitas delas. Mas, acima de tudo, eu decidi ser tudo isso. Ninguém me pediu, obrigou, impôs, esperou isso de mim. Eu apenas e tão somente moldei minhas características ao longa da vida de modo que pudesse ser tudo isso numa mesma pessoa. Aliás, é bom que se diga que pago um preço altíssimo por desejar e buscar ser isso tudo. Notem, porém, que esse preço eu também escolhi pagar. O que questiono no fundo do coração é: e quem não teve essa opção e tenta ser isso porque tantos ao redor pedem, obrigam, impõem e esperam isso?

Por que raios a mulher super poderosa é tão exaltada atualmente? Em tempos de feminismo enaltecido (ufa, ainda há quem lute por nós!), por que cargas d'água se criou esta glamourização de que temos a obrigação de dar conta de tudo? Por que as mulheres que estão em cargos mais altos, são mães, administradoras do lar, independentes e etc são ainda mais veneradas por outras mulheres e também por homens?

Ei, acreditem, existem mulheres que querem ficar em casa, cuidar dos filhos, esperar o marido com uma janta quentinha. Outras que querem ser funcionárias pelo resto da vida porque assim sentem-se mais confortável dentro do seu perfil profissional. Também há aquelas que não nutrem o desejo maternal. E, gente, pelo amor de Deus, está tudo bem assim. Não me enquadro neste último grupo, é verdade, mas apenas e tão somente porque eu gosto e quero viver todos os papéis aos quais escolhi me entregar.

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