Uma declaração de amor

Por Carlos Cypriano, para Coletiva.net

Vamos lá. Nestes anos todos, você nunca foi lá muito querida comigo. Já me fez virar muitas noites, abrir mão de muitas coisas, ficar sem almoçar, sem jantar, sem final de semana.

Em todo este tempo, foram muitas preocupações, angústias, muito, mas muito stress. Dos mais variados. Por várias vezes, senti vontade de dar um basta, de desistir de você, de abandoná-la na mesma hora. E hoje, você está aí, me fazendo passar por mais um desafio. Mais uma vez, você está aí, me testando. E, agora, com uma nova prova. Você tem destas, adora surpresas, adora me desafiar, me tirar do sério. 

Como nas outras vezes, você me coloca contra a parede, me tira o chão, me obriga a sair da zona do conforto e, quer saber, tudo fica uma zona. Não sei exatamente aonde você quer chegar, não sei o que você quer que eu faça e, muito menos, quais decisões você quer que eu tome. Sinceramente, não faço ideia da razão de você fazer tudo isto. Sempre.

Mas quer saber o que vou fazer? Exatamente a mesma coisa que fiz quando você me testou outras vezes: quando me apresentou um novo software, quando mergulhou em uma crise, quando fez grandes fusões, quando desfez estas fusões, quando fechou agências, quando abriu muitas agências, quando criou o on, quando virou on, quando se transformou em all. 

Agora, pelo menos por agora, a gente não sabe muito bem de onde vem a razão de tudo isso: se é do digital ou do off, do cliente ou do cliente do cliente, da crise da economia ou da política em crise, do excesso de conexões ou da falta de conexão, da China ou dos Estados Unidos, da inteligência artificial ou da inteligência emocional. Confesso. Não sei ao certo de onde vem o ataque, nem se ele vai aumentar ou diminuir. 

A única coisa que sei é que não vou ficar parado. É só um teste, mais um teste que você adora fazer comigo. Talvez pra me deixar mais forte ou talvez mais esperto, ou talvez mais louco mesmo. Mais uma vez confesso: você me deixa louco. Um pouco mais a cada dia. Mas, quer saber, não adianta aprontar das suas. Sou louco por você. Você tem este poder avassalador por onde passa. Um monte de gente que conheço diz que não te aguenta mais, mas quando te larga, sente falta. Eu sou dos mais loucos e, sinceramente, não sei se conseguiria ficar mais de quinze dias longe de você. Você é viciante, é apaixonante, é sem noção. Você tem o poder de me deixar anestesiado e me emocionar. É capaz de me fazer sentir um frio na barriga até hoje, é capaz de transformar o meu dia em um segundo. Você e só você me faz, até hoje, buscar o novo, investigar o desconhecido, enfrentar novos e novos desafios. 

Sempre penso que deve ser fantástico ser médico e salvar vidas. Deve ser mágico ser professor e ver um brilho no olho de uma criança. Deve ser incrível ser um policial e proteger as pessoas. Mas quer saber, é sensacional ser publicitário. Nenhum dia é igual ao outro, nenhum job é igual a outro, nenhum cliente é igual a outro. E nenhum desafio, nenhum teste, nenhuma prova é igual à outra. Não sei o que será de você nos próximos anos e ninguém sabe, mas, quer saber, já decidi que estarei junto de você. A gente vai estar lá, de pantufas, tomando um chá da tarde, rindo de todas as nossas histórias e criando mais uma campanha. 

Podem me chamar de louco, de ultrapassado, do que vocês quiserem, mas esta tal publicidade realmente continua mexendo comigo. 

Carlos Cypriano é publicitário.

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