Às vezes, me pergunto onde nasce a democracia - e onde ela termina. Em tempos de tanta instabilidade institucional, já não sabemos ao certo o que significa harmonia entre os poderes. Mas, quando fundamos a RDCTV, tínhamos uma certeza inabalável: a comunicação é, foi e sempre será um dos pilares mais sólidos da democracia.

Fazer jornalismo isento, independente e, ao mesmo tempo, sustentável, é um dos maiores desafios do nosso tempo. E foi nessa caminhada - cheia de lutas, sonhos e propósito - que cruzamos o caminho de um gigante: Carlos Alberto Souza Gostinski, o nosso AUGUSTÃO.

Augusto era mais que um nome forte. Era história viva da comunicação gaúcha. Um profissional experiente, que passou por todas as grandes emissoras deste estado, deixando sua marca com ética, talento e paixão por comunicar. Conhecia como poucos os bastidores, os caminhos, os atalhos e, sobretudo, o valor da palavra bem dita, do gesto correto, da relação construída com verdade.

Tivemos o privilégio de tê-lo ao nosso lado um ano antes da enchente que abalou o nosso estado e levou nossa emissora. E, mesmo nesse curto tempo, o que o Augustão construiu conosco foi imenso. Vi um homem apaixonado pelo que fazia, com brilho nos olhos e um entusiasmo que contagiava todos ao redor. Ele não esperava as coisas acontecerem - ele fazia acontecer.

Junto com o Claro Gilberto e uma equipe dedicada, ajudou a transformar nossa área comercial. Era incansável. Seu famoso caderno de anotações era quase um artefato sagrado - ali estavam sonhos, estratégias, contatos, e uma leitura precisa de cada cliente, de cada oportunidade. Quando dizia que "o jogo estava virando", ele acreditava de verdade. E completava: "Não te preocupa comigo? quem ganha com isso é a comunicação do nosso estado."

Augusto era desses que a gente gostava de cumprimentar com um aperto de mão firme. Olhava nos olhos com respeito e sinceridade. Nunca o vi tratar alguém com desatenção. Se tornava amigo dos amigos, entregava-se por inteiro a cada desafio, a cada pessoa.

Quando descobriu a gravidade da sua saúde, tomou uma decisão profundamente humana: se exilou no litoral, buscando no silêncio das manhãs e na brisa do mar um pouco de paz, um novo fôlego, um último abraço da vida. E mesmo ali, fragilizado, seguiu fazendo o que amava. Ajudou a TV Litoral, emissora que sempre o acolheu com carinho e admiração, oferecendo sua experiência e seu coração, mesmo nos momentos em que o corpo já não acompanhava sua vontade de seguir lutando.

Mesmo quando a saúde começou a cobrar seu preço, ele resistiu. Nunca parou. Nunca reclamou. Lutou até quando a vida, com sua sabedoria silenciosa, decidiu que era hora de descansar. E assim, nesta noite, partiu o meu querido amigo Augustão.

Hoje, a comunicação gaúcha perde um de seus maiores guerreiros. E eu, pessoalmente, perco um amigo leal, generoso e inesquecível.

Descanse em paz, Augustão. Tua missão foi cumprida com honra. E tua história, essa jamais será esquecida.

Márcio Irion é advogado e empresário