Voltando a "andar de bicicleta": o pós-licença-maternidade

De Bárbara Fabres, para o Coletiva.net

Pense em algo que você ama fazer e faz muito bem. Algo que faz parte importante da sua vida e da sua identidade. Agora, pense em ficar sem fazer isso por sete meses e, durante esse tempo, passar a fazer outra coisa - que você nunca fez e que se revela ser absolutamente desafiadora e transformadora. 

Somando essa introdução ao título, você já deve imaginar do que estou falando. Isso mesmo, estou encerrando minha licença-maternidade e voltando ao trabalho, depois de sete meses (seis de licença e um de férias) totalmente dedicada aos cuidados da minha bebê e do nosso lar. 

As três coisas que mais ouvi antes do parto se provaram verdadeiras: a maternidade é uma experiência maluca e maravilhosa, a cada dia melhora e o tempo voa. Estou amando ser mãe e praticamente não vi esses 212 dias passarem, de tão intensos que foram e de tão imersa que estava nessa nova missão. Que privilégio poder acompanhar de perto, dia a dia, o desenvolvimento da minha bebê nessa fase inicial da vida!

Mas, para alguém que é apaixonada pela sua profissão como eu e que, até então, em boa parte, se definia por quem é no trabalho, maternar em turno integral não é nada trivial. O período foi de muito aprendizado, reflexão e reinvenção, abraçando uma nova versão de mim mesma. Também foi um período de enfrentar a saudade de outras fases ou do que não se viveu, o FOMO (do inglês "fear of missing out" - medo de ficar de fora) e o receio da pausa na carreira. 

Agora, sinto que estou despertando de um sonho para enfrentar o mundo real. A um passo da volta ao trabalho, procuro me preparar para essa importante transição, que impacta de maneira expressiva a rotina pessoal e profissional das mulheres com filhos. Como conciliar da melhor forma possível as funções maternas e laborais?

Pensando, lendo e trocando ideias sobre o assunto com pessoas próximas, estabeleci algumas metas para enfrentar este momento. Batizei-as carinhosamente de "Método Maitê" (em homenagem à minha filha e à coincidência da primeira letra de cada tópico!) e as recomendo a quem for passar pelo mesmo:

- [M]ontar um planejamento da transição, com antecedência, calma e carinho. Avaliar o melhor formato e recursos (para a sua realidade familiar) para garantir os cuidados do bebê. E contar plenamente com o seu parceiro ou parceira de vida nessa tarefa. 

- [A]tentar à saúde física e mental. Ter a mente e o corpo em equilíbrio é fundamental, especialmente nessa etapa de maior retomada da vida individual da mãe. 

- [I]ntensificar a dedicação para a gestão do tempo. Entender que, agora, a qualidade do tempo será ainda mais importante que a quantidade - tanto no pessoal, quanto no profissional.

- [T]er paciência. Fazer uma transição gradual. Não tentar abraçar o mundo com as pernas. Não esperar estar a mil no trabalho na primeira semana. E não se desesperar se "algum prato cair" em casa. 

- [E]mpoderar-se e acreditar no seu valor e no seu potencial. Afastar os receios, a culpa e a síndrome de impostora e ter confiança na relevância do seu papel - em casa e no trabalho - e na possibilidade de voar ainda mais alto em ambos ambientes. 

Embora já esteja aplicando os cinco pontos acima (desde a metade da minha licença!), confesso que tenho angústias. Tenho medo de não dar conta. Tenho receio do tempo que vou levar para recuperar a alta performance no trabalho. Tenho dúvidas sobre o mundo corporativo que encontrarei sete meses depois. Com grandes transformações? Certamente. Mas, possivelmente, com algumas coisas no mesmo lugar.

Apesar dessas inquietações, mergulho de corpo e alma nessa nova jornada. Me energizo com os sorrisos simpáticos e os olhos brilhantes e curiosos da minha pequena. Me revigoro nos momentos incríveis que temos tido juntas. E me agarro em pensamentos positivos, como esse: a maternidade está me tornando alguém melhor. 

Porque ser mãe é um aprendizado diário que exige resiliência, responsabilidade e coragem. Que impulsiona autoconhecimento, confiança e habilidades emocionais. Que aprimora a capacidade de organização e multitarefa. Que melhora a comunicação, a empatia e traz mais foco e propósito à vida. Sinto na pele essas mudanças. E me empolgo com o fato de que cada experiência e desafio vivido até aqui constrói a pessoa - e a profissional - que vou ser amanhã. 

Nada disso seria possível sem o apoio da família, dos amigos e dos colegas de trabalho, a quem agradeço imensamente. Assim, sigo maternando, aproveitando cada segundo dessa aventura e me preparando para o futuro e para a missão de conciliar as responsabilidades familiares e profissionais. Na torcida de descobrir, no pós-licença-maternidade, que a volta ao trabalho vai ser como andar de bicicleta - fácil e rápido de retomar, prazeroso de fazer e gratificante de vivenciar. E que, assim como na bicicleta, para manter o equilíbrio na vida, é preciso continuar em movimento.

Bárbara Fabres é gerente-executiva de Comunicação do Grupo RBS.

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