Ainda, e mais uma vez, a comunicação e a crise

Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

E lá vai fechando outro ciclo. Difícil falar de outra pauta nestes tempos. Quase quatro anos da última eleição e a gente nem sabe muito bem se foi feliz neste tempo ou, pior, se o será no próximo. E este, noutros tempos, era exatamente o momento do pensar. Sei.... a cidade ficava suja. Muita suja. Mas eu não sei se não gostava mais daquele tempo, sabe? Eu sabia que tinha eleições à frente - e era obrigado a pensar, a consumir a política, mesmo que tivesse que suportar os maus se apresentando. Engessaram tanto, proibiram tanto, limitaram tanto, que o remédio quase mata o paciente. O período de Natal eu ainda espero reconhecer na plenitude, com luzes na cidade, com euforia, com o contar dos dias.

Mas e a festa da democracia? E a celebração do voto? E a movimentação? Eu quero a festa. Eu não quero guerra de robôs, não quero facadas e generais de vice (onde já se viu general seguir capitão?), não quero pesquisas indutivas de nenhum dos lados.

Na boa, hoje, vindo trabalhar eu olhava para os lados e tive dimensão da crise: tinha mais material de comunicação visual de VENDE e ALUGA do que propaganda política. E, pra mim, este era o sinal que faltava. Todo mundo atrás do dinheiro. Desfazendo-se de imóveis ou dos negócios (sinal invisível no ALUGA-SE, de que outrora havia um negócio ali).

Fiquei meio triste com a modorra, com o desânimo e com os sinais exteriores de.... fundo do poço. Sim, até domingo passado, a disputa era entre o preso e o esfaqueado. Agora, entrou o Andrade e também quer entrar o Tronco, quer dizer, o Mourão. Ah meu Brasil, país dos vices.

Dias atrás alguém me disse: "Estranho ouvir um empresário falar assim". Pois eu digo: estranhos são estes tempos, nos quais, há 20 dias praticamente da eleição, o que vejo no poste é oferta de lavagem de uber e não de propaganda política. Ambos comunicam o pior, pois o uberista de hoje pode ser um engenheiro filho do pedreiro, que não tem opção, e a ausência do espírito das eleições - ali, no poste -, dão a exata dimensão de para onde foi a consciência política, empurrada certamente pela corrupção e pela baixaria reinante nestes tempos.

Mas eu falava da crise. Ela continua. Firme e forte, com a gente contando os dias para que este 4º ano acabe. Para que, pelo menos, possamos, após as eleições, termos condições de retomar nossas vidas com o novo, que pode nem ser tão novo. Basta que tenhamos um clico sem sobressaltos. Nossos negócios - veículos, agências, assessorias, produtoras, enfim - só querem respirar e sair da espiral da monotonia, em que nada se decide, tudo se empurra para "depois", para vermos como fica. Enquanto isto, perdemos o sono com as contas vencendo e com clientes que não conseguem cumprir compromissos conosco. E torcemos pra que a eleição chegue pra definir logo este troço.

Hoje, estive pensativo com a comunicação subliminar que me possuiu. Não foram só os postes e as placas a me dizerem do momento. Teve mais. Teve o lixo e o guincho. O lixo, a caçamba numa esquina, donde saíam, saltitantes, garrafas PET de todas as marcas. Tinha um homem dentro do lixo, buscando seu ganha-pão. Mas tinha um carro no guincho porque não pagou o imposto e o Príncipe João confiscou-lhe o direito de ir e vir com seu carro.

Mas isto é outra história.

Iraguassu Farias é administrador de empresas e diretor comercial em Coletiva.net.

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