Comemoramos o Dia do Jornalista com o risco de voltar cinco casas no jogo da democracia

Por Letícia Baptista de Castro, para Coletiva.net

Em 7 de abril foi comemorado o Dia do Jornalista. Este não é um artigo sobre história, mas achei oportuno contextualizar a data instituída em 1931 pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em homenagem ao homem que morreu defendendo a liberdade de expressão em tempos cascudos para o Império português. Trata-se do médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, assassinado por inimigos políticos em 1830. Parece familiar, pois é nome de rua e de museu, mas poucos sabem sobre sua contribuição para o jornalismo que ainda exercemos e consumimos no País.

É sobre isso esse artigo, mas não consigo evitar em contar um pouco sobre a trajetória deste homem que criou um jornal independente - o Observatório Constitucional, focado em temas políticos, constantemente censurados pelo imperador Dom Pedro I. Naquele período, Badaró se esforçava para que os fatos fossem publicados em sua máxima verdade, a despeito das ordens do imperador, defendendo a República. Claramente, duas transgressões imperdoáveis para uma monarquia falida, corrupta e tacanha. Morreu em nome disso, mas conseguiu insuflar a revolta de populares com a crise que afligiu o Império e a derrota definitiva de Dom Pedro I, quando renunciou em 7 de abril de 1831, deixando a batata quente nas mãos do muy amado filho, Dom Pedro de Alcântara.

Jogando o jogo

Bom, não é sobre história, mas acima temos alguns fatos que, dependendo da fonte, ganham contornos à direita ou à esquerda. Badaró, acreditem, é considerado por alguns como um traidor do Império. Descontando os altos e baixos nos registros destes mais de 500 anos de invasão portuguesa no Brasil, a verdade é que pouco evoluímos desde a morte do jornalista no que diz respeito ao papel da imprensa. Ao contrário. Tivemos alguns períodos marcados por censura e cerceamento político. Em 1931, quando a ABI instituiu a data, vivíamos a era Vargas, um expoente na política pouco simpático às liberdades. Em 1964, não apenas os noticiários e opiniões perderam o direito de transitar pela verdade, como a arte, a literatura e qualquer tipo de conteúdo intelectual sofria um rigoroso domínio militar. Vivenciamos a época das metáforas para aprovar publicações, músicas, filmes, teatros, livros.

Tardiamente, já nos anos 1980, ainda que com marcas e hematomas, o Brasil voltou a "sorrir" para a liberdade. A expressão passou a ter apenas o critério das linhas editoriais, dos profissionais e de quem mais tivesse interesse em reproduzir suas ideias, contar fatos, noticiar o cotidiano. Eram tempos de sorrisos no retorno dos exilados, de choro pela falta dos assassinados e da angústia nos olhos dos torturados. Isso não foi notícia. E se não foi notícia, para uma parcela pouco interessada em história, não aconteceu. "Só vagabundo ia pra porão", eles dizem.

Sobre as linhas editoriais, vale lembrar que os conglomerados da mídia não aprenderam com os erros. Produziram candidatos, elegeram aventureiros, sonegaram impostos e aqui estamos novamente a perigo.

A imprensa, assim como a "escola sem partido" está, mais uma vez, na mira daqueles que não mantêm um debate em alto nível e reprimem seus "inimigos imaginários" na bala, no soco, no choque, no sumiço. Se não cuidarmos da democracia, se não cuidarmos das liberdades individuais, seja na imprensa, na sala de aula, na arte, voltaremos cinco casas no jogo da democracia. E aqui um spoiler: não tem ganhador no final, pois como proclamou Winston Churchill: "A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais".

Letícia Baptista de Castro é jornalista.

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