Saiam do armário

Por Moisés Mendes, para Coletiva.net

Jornalistas de opinião, que sempre palpitam sobre tudo, deveriam se posicionar politicamente nos momentos graves. Não necessariamente com engajamento a partidos ou a grupos, mas com o compromisso explícito com ideias.

Jornalista que se impõe pelo que defende às vezes de forma dissimulada deveria desfazer todas as dúvidas sobre o que pensa no momento mais dramático da vida brasileira nas últimas décadas.

Jornalista de opinião que não enrola deveria dizer de que lado está no confronto entre Haddad e o candidato da extrema direita.

É cínica a desculpa de que jornalista de opinião só opina, mas não tem lado. Jornalista que opina tem lado, sim. E precisa, no momento mais grave do País, dizer de que lado está.

Falo dos jornalistas que se consideram conservadores, mas são mais do que isso, são reacionários. Estes devem assumir o que pensam sem fazer curvas, sem se dispersar em frases bonitas e sem subestimar a capacidade de compreensão do leitor e do ouvinte. Falo, principalmente, de jornalistas que opinam em jornais e no rádio.

São os mais valentes para bater em professores, sem-terra, sem-teto, servidores públicos. São os primeiros a desqualificar a política. Muitos deles foram os fomentadores do ambiente que criou Bolsonaro. Alguns podem se considerar pais de Bolsonaro. Outros tantos foram assumidamente golpistas.

Por isso devem se posicionar. Para que não continuem andando em círculos diante do receio com a ascensão do candidato da extrema direita e das reações de seus leitores e ouvintes.

Jornalista que ocupa espaços na grande imprensa, e que sempre bateu em setores desprotegidos, que sempre criminalizou os movimentos sociais e que assumiu posições antipetistas, precisa dizer agora de que lado está.

Jornalista de opinião não pode sucumbir ao silêncio por achar que assim não fica mal com a turma de Bolsonaro. Jornalista que opina tem que opinar, e não enrolar. Quem ficar divagando em torno de generalidades será cúmplice acovardado do que pode acontecer.

O momento é único, é uma situação jamais vista. Não tem como comparar com outras circunstâncias históricas. O jornalismo nunca se acovardou diante de desafios grandiosos. Esse é o maior de todos, o mais assustador.

O jornalismo dito imparcial, que geralmente se alia sempre à direita, só favorece o fascismo. Por isso, em nome do respeito aos que consomem o que produzem, os jornalistas de direita devem dizer logo que apoiam Bolsonaro.

Que declarem a rendição ao candidato. Saiam logo do armário.

E os jornalistas ainda temerosos de engajamentos, mas que nunca ficariam ao lado de um projeto sustentado pelo ódio, devem dizer que não estão com Bolsonaro. Se puderem, que digam que estão, não com Haddad, mas com as forças que podem assegurar a sobrevivência de democracia.

Não existem jornalistas de opinião politicamente neutros. Existem jornalistas que emitem opiniões diversas, às vezes de forma dissimulada, mas muitas vezes não expressam o que pensam no que é fundamental. E o fundamental hoje é ter coragem de sair do armário. Dizer logo que é Bolsonaro, ou que está contra a ameaça fascista.

Jornalista 'de opinião' que se acovardar deve comentar apenas futebol. Eu sou Haddad contra o fascismo.

Moisés Mendes é jornalista.

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