A culpa é de quem?

Por Cris De Luca

A ideia era escrever sobre o Oscar, os discursos sempre emocionantes e inspiradores que os ganhadores fazem arrancando suspiros e, algumas vezes, lágrimas da gente. Só que resolvi parar para refletir sobre alguns pontos levantados nas últimas semanas, principalmente, em duas situações: o espancamento de uma mulher por um homem com o qual ela conversava pelas redes sociais há oito meses e a separação dos atores José Loreto e Débora Nascimento após uma possível traição. No primeiro caso, vi criaturas, mais uma vez, tentando culpabilizar a vítima que quase não escapa com vida da violência que sofreu. No segundo, levantaram-se boatos de que o caso do Loreto era com a Marina Ruy Barbosa e a colocaram como pivô e culpada do fim do casamento dele.

Há um senso comum na nossa sociedade que sempre, em qualquer hipótese, questiona o comportamento da mulher como se os homens fossem umas plantas, uns seres que é soprar duas palavras do ouvido deles que, ou caem de paixão sem conseguir resistir aos encantos, ou não conseguem lidar com rejeição e saem batendo, atirando, esfaqueando e por aí vai. Sem contar que em casos de assédio e abuso, é sempre a mulher que é questionada sobre a roupa que estava usando, como estava agindo, deve ter falado alguma coisa que ele interpretou como abertura para fazer tal e tal coisa. Chega, minha gente! Vamos deixar de ser hipócritas.

"O que uma mulher de 55 anos estava fazendo com um cara de 27?" A mesma coisa que muitos caras de mais de 50 anos fazem com garotas com menos de 30. "Mas por que ela o levou para dentro de casa?" Porque ela estava a fim e fazia oito meses que conversava com ele nas redes sociais. Quem aí nunca foi para uma festa e depois foi para a casa de alguém que acabou de conhecer ou levou o ser para a sua casa? E as mulheres que são agredidas, abusadas e mortas por pessoas que conhecem há anos? A culpa é delas também?

"Ai, mas a fulaninha sabia que o cara era casado." Sim, faltou a fulaninha parar e pensar na outra mulher, mas quem era o ser casado mesmo? Ah! Era ele! Sem contar que no caso que colocaram a ruiva na história, outras atrizes chegaram a desqualificar a menina, deixaram de segui-la nas redes sociais, até mesmo uma das suas madrinhas de casamento, como se ela fosse uma encantadora e usurpadora de homens casados, como se ela também não fosse casada. É claro que cada caso é um caso, mas quem já foi traído ou traiu, sabe muito bem como funciona a história. Tem algumas situações em que tu ficas com alguém e só depois tu descobres que o ser é comprometido. Aí, tu cais fora da história, mas sabes que a criatura continua em aplicativos de relacionamento fazendo e acontecendo. A culpa é de quem mesmo?

E, em véspera de Carnaval, quando o povo, isso vale para homens e mulheres, acha que é oba-oba, que pode se fazer de um tudo e que nada tem consequência, é importante lembrar que: não é não; ninguém é propriedade de ninguém; se tiver compromisso, respeite quem está com você; "meu corpo, minhas regras". Não importa a roupa que a pessoa estiver usando, isso não é permissão para assediar ou abusar; já ter ficado com alguém não te dá o direito de chegar agarrando o ser. Se vir alguém inconsciente em função de bebedeira, tente encontrar um posto de atendimento ou algum amigo da criatura não deixá-la vulnerável; se vir alguém sendo agredido, meta a colher e chame a polícia; respeita as mina, as mona, as mana e os mano; sejam responsáveis pelos seus atos. E usem camisinha!

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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