Carlos Simon e Jean Todt

      Como este texto entrará no ar na terça-feira e a decisão da Copa do Brasil será na quarta, escrevo torcendo para que o Brasiliense …

      Como este texto entrará no ar na terça-feira e a decisão da Copa do Brasil será na quarta, escrevo torcendo para que o Brasiliense conquiste o título, porque o ser humano tende a simpatizar com o mais fraco, porque gosto muito de Brasília, porque Taguatinga tem significados emocionais ligados à trajetória de meu pai, e porque o amarelinho do Cerrado foi vergonhosamente prejudicado pela arbitragem de Carlos Simon no primeiro jogo contra o Corinthians. Digo prejudicado, e não roubado, porque não sou afeito a teorias conspiratórias, e também não há qualquer razão para desconfiar da honestidade do Simon. De todo modo, é incrível como equipes de menor expressão parecem proibidas de conquistar títulos importantes.
      Ao assistir à primeira partida das finais, fiquei, como qualquer um que goste de futebol e não seja corintiano cego, indignado com a seqüência de erros da arbitragem. Ainda no primeiro tempo, foi marcado um impedimento absurdo quando um atacante brasiliense ficou na cara do Dida. Depois, vieram a falta não marcada que resultou no gol do time paulista e o pênalti não marcado a favor da amarelinho. No final, de troco, ainda deixou de ser dado cartão amarelo, no mínimo, a um corintiano que deu uma cotovelada no adversário. A falta e o pênalti não marcados simplesmente inverteram o resultado. A mídia sequer ficou dividida. Assistia ao jogo na Globo, na qual o Cléber Machado, o Falcão, o Casagrande e o Arnaldo César Coelho apontaram os erros graves. Tentei a Record, e lá estava o Oscar Roberto de Godói dizendo a mesma coisa. Na Sportv, o Rivelino e o Cláudio Vinícius Cerdeira faziam coro. Um ótimo narrador, três ex-craques, dois deles corintianos, e três ex-árbitros.
      Uma vez que decisão de campo, infelizmente, não pode ser alterada - quer dizer, um jogador que agride um colega pode se defender em tribunal, mas time roubado, mesmo que em sentido figurado, não pode -, no dia seguinte, além de uma punição a Simon, eu esperava por uma meaculpa. Que nada, lá estava ele, assistindo ao vídeo da partida, com vários ângulos, câmera lenta e quadro parado, insistindo em dizer que não errara. Os terríveis equívocos ainda poderiam ser perdoados, afinal, como sabemos, errar é humano, embora não tantas vezes em tão pouco tempo e contra a mesma equipe, mas contrariar a opinião de tanta gente qualificada no assunto e ainda fazer pose é de uma arrogância imperdoável.
      A atitude da Ferrari no GP da Áustria, mandando Rubinho abrir passagem para Schumacher no final da prova também conseguiu indignar a torcida e a mídia. Tanto se fala sobre as eventuais deficiências de Rubinho, e aí, no fim de semana em que ele é perfeito, superior ao alemão, impecável nos treinos e na corrida, passa por tal humilhação. O constrangimento de Schumacher no pódio é compreensível, e apesar de tudo que se fala contra ele em termos de comportamento, desta vez sou obrigado a concordar que a situação era complicada. O brasileiro freou próximo à linha de chegada, ele freou também, Rubinho freou mais, como decidir em frações de segundo? Se ambos vacilam, as Williams passam.
      A exemplo do que ocorreu com Simon, o mínimo que se esperava era o arrependimento de Jean Todt, o diretor da Ferrari que deu a ordem esdrúxula. O Daniel Dias escreveu na Zero Hora de segunda-feira: "A infeliz decisão da Ferrari (um sinônimo de automobilismo) com certeza está sendo lamentada dentro da própria equipe". Meu caro Daniel, é que você, no fundo, é um homem bom, capaz de acreditar no arrependimento dos arrogantes. O Cléber Machado, que narrava a corrida, também disse, pouco antes do final: "Eu não acredito que a Ferraria vá tirar a vitória do Rubinho." Reginaldo Leme, do alto de sua experiência, optou pela cautela: "Prefiro esperar para ver." A Ferrari não se arrependeu. Jean Todt disse que fará isso quantas vezes achar que deve, e ainda teve o apoio do diretor técnico da equipe, Ross Brawn, e do presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo. A Ferrari, a exemplo de Simon, não acha que errou.
Dedicado a Breno Maestri
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Autor
 Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.

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