Grazie, Esposito

Por José Antônio Moraes de Oliveira

Trata-se de uma placa igual a centenas de outras placas comemorativas, que encontramos nas ruas e praças de Nápoles. Milhares de turistas nem lhe dedicam um segundo olhar. Mas os gourmets e gourmands em visita à cidade lhe deviam prestar reverência. Pois aquela pequena placa de mármore lembra que, em 1889, aconteceu algo que transformou os hábitos alimentares das pessoas em todo o mundo. Naquele local, na antiga taberna, Pizzeria di Pietro e Basta Cosi, foi inventada a pizza.

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Na verdade, a pizza já existia há muito em Nápoles, como comida de rua e também como uma forma de reaproveitar ingredientes sobrados da última refeição. Então, um cozinheiro chamado Raffaele Esposito foi convocado para atender um pedido especialíssimo: preparar uma iguaria napolitana para a rainha Margherita de Sabóia, em visita à cidade, em companhia do rei Umberto I. Preocupado como a enormidade da missão, Raffaele Esposito criou três diferentes receitas de pizza para serem testadas pelo provador da cozinha real. Que imediatamente descartou as duas primeiras pelo excesso de alho, que poderia ofender o paladar de suas altezas. Mas aprovou a terceira receita, com tomates, queijo mozzarela e manjericão, que combinavam o vermelho, o branco e o verde, emulando as cores da bandeira da Itália. Sabe-se que a rainha Margherita apreciou enormemente o resultado, a ponto de repetir o prato e mandar uma carta de recomendações ao cozinheiro. Raffaele Esposito não perdeu tempo, afixou o documento real na porta da cantina e batizou sua criação de Pizza Margherita.

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Sucesso instantâneo. Nápoles em festa. Não demorou muito para que multidões acorressem à cantina de Esposito, desejosos de conhecer a "Pizza da Rainha". A fama cresceu, dando a Raffaele Esposito o título de "pai da pizza napolitana". Como resultado da invenção, o jovem pizzaiolo comprou a cantina em que trabalhava, que rebatizou de Pizzeria Brandi. Que continua funcionando até hoje, na Via Sant'Anna di Palazzo, no Bairro Espanhol, em Nápoles. Em lugar de destaque, a carta de 1889, com o selo de Margherita de Sabóia

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No entanto, o sucesso de Raffaele Esposito e sua Pizza Margherita deve muito a um de seus ingredientes fundamentais, o tomate. Que antes de chegar à mesa da Rainha, teve uma carreira acidentada desde sua origem no Novo Mundo. O tomate desembarcou na Itália pelo porto de Genova, vindo da Espanha. Inicialmente, o belo fruto vermelho foi recebido com restrições e até banido em Roma, pois para os cardeais católicos seria o mesmo fruto proibido que Eva ofereceu a Adão no Jardim do Éden. No entanto, os italianos de Nápoles estavam mais interessados nos prazeres da mesa do que nas bulas de Roma e levaram o pomo d'oro  para suas mesas. Surge uma combinação única - transformado em molho complementa de forma perfeita o macarrão trazido do Oriente por Marco Polo. E, quase que de imediato, o antigo fruto proibido é agregado como ingrediente indispensável para a gastronomia mediterrânea.

Já no século 19, o pomodoro chega a todas as cozinhas do Ocidente, nas muitas versões e variações da clássica pizza napolitana. As superstições, anátemas e lendas acabam no lixo da história, graças às benditas intervenções de Marguerita de Saboia e de cozinheiros inventivos como o napolitano Raffaele Esposito

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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