Porto Alegre e sua nova fisionomia em janeiro e fevereiro

Por Márcia Martins

Porto Alegre troca de fisionomia nos meses de janeiro e fevereiro. A cidade perde a sua urgência. A Capital sempre com pressa, com o caminhar agitado dos pedestres nas ruas do centro, com o barulho nervoso do trânsito nas principais vias, com as filas dificultando as ações nos bancos, nos supermercados, no comércio, nos cinemas, começa a andar devagar. Do dia para a noite, como num passe de mágica, Porto Alegre ganha um novo perfil de cidade do interior que ensaia os primeiros traços de desenvolvimento. As férias de uma parte significativa de seus habitantes, que fogem para as praias gaúchas, mares catarinenses, destinos no Nordeste ou até para o exterior (conforme as finanças de cada um) transformam a Capital e lhe fornecem um tom bucólico de calmaria.

Existe mais tranquilidade nos passos de quem transita nas ruas menos entulhadas da Capital. Existe mais paciência nos dedos dos motoristas que lhes afasta temporariamente do apertar das buzinas nos raros momentos de congestionamento. Existe mais amabilidade nos atendimentos em todos os locais, sejam eles instituições de saúde, estabelecimentos bancários ou de varejo. Existem menos filas nestes locais, o que facilita e estimula a realização de tais atividades. Existe uma serenidade no olhar dos condutores de veículos do transporte público. Existe uma graciosidade no perambular dos corpos nas vias, nos cruzamentos, nos parques, nas praças, nas esquinas da cidade. Existe um jeito mais sossegado de viver, de interagir, de trocar ideias, de programar encontros e exercer a cidadania.

Sou uma apaixonada por Porto Alegre, apesar dos equívocos desastrados das últimas administrações. E juro que não vou escrever hoje sobre política. Mas gosto especialmente desta cidade que surge nos primeiros meses do ano. Encanto-me derradeiramente pela metrópole com noções de civilidade, com tons necessários de educação, com movimentos reduzidos nos parques, nas praças e nos seus recantos mais visitados ou ignorados. Admiro sem desperdiçar nenhum segundo os cheiros do Mercado Público, a Rua dos Andradas, o entardecer na Orla do Gasômetro, o sábado na Feira Ecológica do Bom Fim, as bicicletas desfilando nas ciclovias, os cinemas nos shoppings, a Casa de Cultura Mario Quintana, o Brique da Redenção e tudo mais o que a Capital oferece.

A cidade parece sorrir mais quando não precisa responder aos atropelos frenéticos do cotidiano, ao nervoso do trânsito que não flui e entope as suas vias nos horários em que mais se necessita de rapidez, ao empurra-empurra da população nas ruas do Centro Histórico. A cidade parece mais disposta a acordar quando não presencia as pessoas com as caras ranzinzas a esperar o transporte público, sempre atrasado nos outros meses do ano, nas paradas determinadas. A cidade parece mais propensa a adormecer repousada quando não é palco de tanta neurose, congestionamento, disputa pelos seus espaços, briga para conseguir a melhor sombra nas áreas verdes. A cidade fica mais bonita e mais acolhedora. A cidade fica mais afetuosa e mais agradável. Ouso dizer até mais convidativa ao lazer ou ao ócio.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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