Quem irá decidir a eleição?

Por Elis Radmann

A democracia como foi pensada pressupunha que a decisão eleitoral fosse realizada a partir de critérios políticos, ou seja, o eleitor deveria escolher o seu candidato com base na ideologia, em partidos políticos, interesse de classe, proposições ou plataformas de governo. Na prática, para escolher, o eleitor deveria avaliar os candidatos com ideias parecidas com as suas.

Em função de fatores históricos e conjunturais, a cultura política brasileira se constituiu pelo personalismo político, voto na pessoa do candidato. Com o acirramento da descrença do eleitor, ampliada pela indignação com os intermináveis escândalos de corrupção, houve o fortalecimento de duas vertentes de eleitores: os esperançosos que vão apostar em uma escolha mais baseados em fatores emocionais do que racionais, e os descrentes, que devem se omitir do processo eleitoral e optar pelo voto branco, nulo ou abstenção.

O IPO - Instituto pesquisa de opinião desenvolveu uma tipologia do eleitor gaúcho e tem monitorado cada um dos comportamentos, sendo eles:

O eleitor esperançoso (que representa 37,8% do Estado) = É o eleitor predominante. Procura um candidato em que possa acreditar, mesmo que se frustre depois. Acredita nas pessoas e não nos partidos. Tende a mudar de candidato a cada ciclo.

O eleitor descrente (29,5%) = Compreende uma parcela significativa do eleitorado. Decepcionou-se com a política ou nunca gostou. Não acredita na política, nem nos políticos e mantém a opção de não votar (não comparecer ou votar em branco e/ou anular o seu voto).

O eleitor prático (11,5%) = Avalia a conjuntura do momento e vota em um candidato que tenha viabilidade, condições de executar o que propõe com menor margem de risco. Este eleitor também é conhecido como pragmático ou racional. Avalia o custo X benefício de sua decisão e tende a manter o governante que está desenvolvendo um trabalho satisfatório.

O eleitor ideológico (10,4%) = Tem uma visão de mundo e acredita em ideais e princípios. Vota por critérios políticos: seja pelo partido, por interesse de uma categoria ou de classe, por proposição do candidato ou pelo direito de uma minoria (causa específica).

O eleitor de última hora (9,2%) = Deixa para escolher na última hora e, em muitos casos, pede ajuda a amigos e familiares. Este tipo de eleitor também é motivado pelos santinhos, em especial, as colas eleitorais. Sempre foi simpático ao material jogado no entorno dos locais de votação no dia da eleição.

O eleitor que vota em benefício próprio (1,7%) = Vota no candidato que possa lhe resolver um problema ou trazer um benefício. É o típico eleitor clientelista que teve o seu princípio fortalecido pela ampliação das denúncias de corrupção. Este eleitor acredita que todos se beneficiam com a política.

Verificou-se que há variação conforme a mesorregião do Estado, sendo que as regiões mais descrentes são aquelas que tendem a se alienar no processo eleitoral (votar branco, nulo ou se abster), em especial, Porto Alegre e Região Metropolitana.

Deve-se ter em mente que o eleitor esperançoso corresponde a 37,8% do Estado e terá um papel decisivo no processo eleitoral. Se pensarmos nos votos válidos, que ocorre com a exclusão dos votos brancos, nulos e abstenções, o eleitor descrente não será contabilizado no processo eleitoral e o eleitor esperançoso passa a representar mais de 50% do eleitorado: uma decisão eleitoral baseada na imagem, atributos e propostas de uma pessoa.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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