Sou famoso: e agora?

Por Flavio Paiva

Minha coluna de hoje vai tratar mais de jogadores de futebol famosos, que são verdadeiros influencers junto aos seus públicos. Claro que colhem os benefícios dos seus esforços em campo, mas também junto a patrocinadores interessados em associarem suas marcas aos vencedores. É uma roda ganha-ganha, ganham os jogadores, ganham os patrocinadores.

Case discutível foi o da Gillette, patrocinadora de Neymar, após a Copa. Ao desenvolver peças retuitadas aos milhares, tratando da participação malsucedida do atleta na Copa do Mundo da Rússia(em especial o cai-cai que foi associado ao jogador), a empresa explorou o episódio, numa tentativa de melhorar a imagem do atleta(e dela mesma, Gillette, por apoiar alguém que 'estava por baixo'). Sendo verdadeiro, o principal propósito da empresa foi posar de boa moça, não se importando tanto (ou não calculando adequadamente, o que dá quase no mesmo) com a repercussão que teria na imagem do jogador. Mas deixemos este discutível episódio de lado, mencionei porque foi recente.

O que quero tratar é o fato de jogadores como Cristiano Ronaldo e o próprio Neymar terem seguidores aos milhões ou milhares, o que configura uma base sólida de pessoas impactadas por suas mensagens e opiniões, pelos produtos para os quais dá seu depoimento (endorsement) e especialmente por suas posições sociais. Vai um tempo, um jogador de um clube brasileiro, em resposta a um torcedor que o criticava, disse que o que o torcedor ganhava de salário era o que ele gastava de ração para os cachorros.

Apesar de este episódio estar um pouco mais distante, a questão é que os jogadores, pela configuração das mídias, tornaram-se celebridades e, por conseguinte, influencers. Suas posições e atitudes impactarão junto a milhares/milhões de pessoas. E o que não vejo? Não vejo (salvo exceções) jogadores que assumam o caráter social da fama. A partir do momento em que passam a ser formadores de opinião, eles têm responsabilidade social com o que fazem e dizem. Não são mais cidadãos comuns que (embora também tenham responsabilidade social por seus atos) não impactam tanta gente.

E não vejo uma conduta efetivamente ética, seja por despreparo, seja por ganância. E despreparo leia-se também desinteresse ou inconsciência de seu papel social. Mau assessoramento também conta, uma vez que estes atletas têm verdadeiras equipes para gerir suas carreiras, não apenas futebolísticas, como de imagem.

Vejo perfumaria: quando um menino no meio de uma comunidade paupérrima está jogando futebol com a 'camisa' (uma camisa velha, rasgada e improvisada, mas com o nome do jogador), o atleta presenteia àquele menino com uma camiseta. Francamente, é muito pouco! Considero quase uma esmola.

Mas o que é pior: os torcedores, em sua maioria, não cobram dos seus ídolos esta postura responsável e ética. Adotou-se um discurso e uma prática de que é legítimo o jogador cuidar (e só) de sua carreira, sem preocupação com mais nada. O que vale é a fama e a grana. E ponto. E os torcedores, inconscientes, aplaudem. Acham adequado, pois o dinheiro é dele e é o que interessa. Não quero uma distribuição socialista do dinheiro que alguém obtém como fruto do seu trabalho, mas uma postura que não seja somente esta. Porque se são influenciadores, estão inseridos dentro de algo maior, que é uma sociedade, com suas mazelas (que são muitas, em todos os locais do mundo, em uns mais, em outros menos) e eles têm a possibilidade e o dever de serem efetivamente ícones de transformações de pensamento e exemplos de atitude. Não deixarão, com isto, de fechar seus contratos e ganhar a sua grana. Mas incluirão um ingrediente fundamental que parece carente no mundo: a responsabilidade social e a solidariedade verdadeiras. E, ao contrário do que possam pensar, não perderão ou ganharão menos dinheiro com isto, ao inverso.

Quem é formador de opinião (e no caso de jogadores de futebol, há ainda uma forte vinculação emocional do torcedor para com este, o que impulsiona ainda mais suas posições e ações) não pode mais se furtar de assumir este papel, dentro de um contexto global mais sério. Disto tudo resultará um ciclo ainda maior de ganhos, tanto financeiros quanto de imagem para atletas, patrocinadores e sociedade.

Dicas do Guion

Quem colhe os louros da fama obtida em décadas de atuação responsável é o Guion, complexo multicultural encravado na Lima e Silva, na Cidade Baixa. Em especial hoje, indicaremos filmes, mas há muito mais a explorar, conhecer e degustar (em todos os sentidos) por lá. Mas vamos às estreias e aos demais filmes em cartaz:

Estreias

'Yonlu' (Drama, Brasil, direção de Hique Montanari, 90min)

'As Herdeiras' (Las Herederas, Drama, Paraguai-Alemanha-Uruguai-Noruega-Brasil-França, direção de Marcelo Martinessi, 95min)

'Fica mais escuro antes do amanhecer' (Drama-Suspense, Brasil, direção de Thiago Luciano, 87min)

Em cartaz

E seguem em cartaz os imperdíveis 'A outra mulher', 'Escobar - A traição' e 'Gauguin - viagem ao Taiti'.

Assista fama, ética e responsabilidade, tudo em um único local. Diversão, entretenimento, lazer. Se você pensou em deixar para amanhã, hoje estes filmes estão em cartaz. Vá e me conte!

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