A cidade do Rio de Janeiro manchada de sangue

Por Márcia Martins

Desde a manhã de terça-feira, estou mergulhada em lágrimas. Choro muito. Sem controle. Com pequenos intervalos quando consigo me desligar por alguns minutos das notícias na televisão sobre a chacina na cidade maravilhosa a mando do governador carioca fascista e bolsonarista. Sou muito emotiva. E o pranto que escorre é de solidariedade pelas mulheres que viram seus filhos e companheiros serem mortos covardemente, pelas mulheres que precisam identificar os corpos de parentes e amigos, muitos inocentes, deitados na Praça São Lucas, na Penha, pela enorme sensação de insegurança de uma metrópole à mercê de mais uma operação letal da polícia do governador Cláudio Castro.

Mas eu também choro de indignação. E as duas sensações - solidariedade e indignação - se misturam e quando uma sai de cena a outra se apresenta de protagonista.  E o pranto que escorre é de indignação pela falta de planejamento de uma megaoperação que o chefe do Executivo do Estado do Rio de Janeiro jura que vinha sendo planejada há algum tempo, pelas cenas do massacre que estampam jornais e noticiários na mídia eletrônica, pelos inocentes mortos na chacina e pelos policiais que tombaram na tal operação realizada nos complexos do Alemão e da Penha.

E nos instantes em que não choro, fico perplexa e revoltada diante de tanta violência, de tanto desrespeito de um governante com a vida de quem mora nas periferias (e invariavelmente sempre leva a pior), com a falta de preparo de quem deveria proteger os cidadãos e não sair matando a queima roupa. E nos instantes em que não choro, tenho a impressão que as cenas no Rio de Janeiro na terça-feira e na quarta-feira são enredos de filmes de terror.

Números oficiais (que podem ser bem maiores) apontam para 121 mortos. E quantos destes são inocentes, que não tinham ligação nenhuma com o crime organizado? A cúpula da segurança do Rio de Janeiro, que assegura que a ação teve um planejamento muito minucioso (imagina se não tivesse), diz que dos 121 mortos, quatro são policiais e 117 suspeitos. E eu sigo chorando de solidariedade e de indignação.  E eu sigo perplexa e revoltada. Ainda não perdi o meu senso de empatia e humanidade.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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