A cidade que perdi

Por José Antônio Moraes de Oliveira

28/07/2025 15:09
A cidade que perdi

Os poetas e escritores de minha geração sabiam como bem celebrar os encantamentos de Porto Alegre. A eles costumo recorrer, quando esqueço dos nomes, cores e flores de minhas antigas andanças pela cidade. Que era prazeirosa e amável, ainda guardando seu jeito de ser dos tempos da Província de São Pedro. E que sobrevive nos versos do poeta Mário Quintana:

?Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei...?.

E na poesia em prosa de José Fogaça:

?Porto Alegre me tem, não leve a mal A saudade é demais, É lá que eu vivo em paz?.

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A cada vez e sempre que pego a estrada, as saudades apertam. É quando recorro às cenas esparsas de um passado que permanece vivo:

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Com os amigos fraternos Prunes e Martau na mesa de janela do Bar Hubertus. Tomamos chopp bem tirado, nos regalando com os sanduiches de lombinho e salada russa.

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Em um banco da Praça da Matriz, com um olho atento na filhota que despenca lomba abaixo, pedalando em seu triciclo vermelho.

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Ou nos Moinhos de Vento, no Jockey Clube do Prado que não existe mais. Com o pai que aposta nos cavalinhos da Escuderia Azul-e-Branco no páreo dos 1.200 metros.

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Esperando para entrevistar o governador Leonel Brizola, que convocou a Brigada Militar para defender o Palácio Piratini dos blindados do III Exército que estão subindo a ladeira.

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É uma matinê de domingo, no Cine Baltimore, assistindo "A Dama de Shanghai". Ao mesmo tempo que tento um flerte com a garota da fila de cima.

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Agora imóvel e quase sufocando no palco do Theatro São Pedro. Enfiado em uma armadura de lata, no papel do fantasma do pai de Hamlet, o príncipe da Dinamarca.

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Mas fica tarde, os sonhos pesam, os olhos reclamam.  Uma pausa para respirar e reler o que está escrito. Mas me pergunto:

" - Fui eu mesmo que escrevi isto?

De onde vieram tantas lembranças?.

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