Que a democracia no Brasil ao longo da história sempre foi frágil, não é segredo para ninguém. Isso quando ela existiu, pois a trajetória do país é marcada por muitos momentos de ditadura ou de regimes chamados de ?exceção?.
Mas no momento atual vivemos diante de ?curiosas? (a expressão é irônica, pois o certo seria ?abomináveis?) práticas de setores radicais da direita, ou, de forma mais simples, da extrema-direita.
A sequência de fatos: o candidato deste segmento perde a eleição presidencial de 2022. A partir de então, reuniões em gabinetes tramam ações para impedir a posse do eleito. Segundo as investigações, até as mortes do candidato vitorioso, de seu vice e de membro da Suprema Corte são planejadas.
Pelas ruas, eleitores do candidato derrotado se concentram na frente de quarteis, interrompem o fluxo em rodovias, são flagrados com artefatos explosivos. O ápice ocorre em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse do novo governo, quando invadem e depredam as sedes dos três poderes em Brasília, numa clara demonstração de desrespeito ao resultado das urnas.
Essa sequência de fatos resulta em investigações, prisões e condenações e outros tantos processos ainda não julgados, alguns deles envolvendo o candidato derrotado na eleição que, segundo as investigações, não só estaria envolvido como seria o líder da conspiração. Mas o caso ainda não foi julgado.
Na tentativa de impedir ou de anular um futuro julgamento do ex-presidente e de deixar impunes os participantes dos atos golpistas de 8 de janeiro, aliados jogam pesado, sem qualquer preocupação com a repercussão.
O filho do ex-presidente, que assim como o pai e os seguidores de ambos, sempre se declarou patriota, se licencia do cargo de deputado federal e se aloja nos Estados Unidos, onde passa a fazer lobby para que autoridades e, pasmem, o país sejam punidos, caso seu pai não seja poupado de punição.
E obviamente obteve apoio, uma vez que quando o atual presidente dos EUA perdeu a eleição de 2020, seus seguidores promoveram uma grande baderna, invadindo o Capitólio, sede do Legislativo, inspirando o 8 de janeiro.
Por aqui, aliados congressistas ?sequestram? as casas legislativas, impedindo o trabalho dos demais (além, obviamente, de não realizarem o próprio) como forma de chantagem para que seja pautado o projeto da anistia. Também pedem a cabeça do membro da Suprema Corte relator dos processos.
Enfim, a ?democracia? deste segmento é mais ou menos assim: se perdem a eleição, eleitores, seguidores e apoiadores protestam, vandalizam, bloqueiam estradas, planejam atentados. Em gabinetes, são arquitetadas formas de golpe.
Se o golpe fracassa, representantes do segmento se unem ao governo de outra Pátria para atacar a soberania nacional. Outro segmento toma as casas legislativas para pressionar pelo perdão aos participantes do golpe fracassado, incluindo o ex-presidente.
A julgar pelos atos até aqui praticados, esse segmento seguirá sem medir esforços, sem qualquer preocupação com regimentos, leis e ética, em busca daquilo pelo qual se demonstra obsessivo e não querer abrir mão, coloca acima de tudo, inclusive do país: o poder. E seguirá assim até a eleição. E pela demonstração dada, só aceitará o resultado se lhe for favorável. Essa é a ?democracia? da extrema-direita.