A esquerda também ama

Por Flávio Dutra

Afinal, parece que a esquerda brasileira começou a se reinventar. Depois de ser derrotada nas urnas; depois de perder suas principais bandeiras de luta; depois do estrago provocado pela Lava Jato nas suas fileiras; depois das divisões no seu campo político, surge agora uma iniciativa, pelo menos inovadora, que vai mexer com parte da militância: foi criado o PTinder, junção da sigla do partido com o aplicativo para encontros românticos Tinder.

A informação saiu na coluna da Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo. A ideia, segundo a nota da colunista, é da advogada Maria Goretti Nagime e da filósofa Elika Takimoto, com o objetivo de promover o relacionamento entre pessoas de esquerda. A ajuda a um amigo que ficou na fossa depois de um pé na bunda da parceira foi o que motivou o PTinder. Ao ser apresentado como "bom de papo" e "de esquerda", o tal amigo atraiu muitas mulheres para seu perfil, surpreendendo a ele e à advogada criadora do aplicativo.

Fico imaginando se bom de papo e de esquerda não é uma redundância, mas, enfim, talvez seja implicância minha. Igualmente, pode ser mera implicância os diálogos que imagino para a paquera entre a moça de esquerda e um pretendente, digamos, neo esquerdista:

- Companheiro, primeiramente Lula Livre e fora o Coiso.

Em seguida, tudo online, o sujeito será submetido a um questionário para comprovação de adesão ideológica à esquerda.

- Foi golpe?

- Bozonaro mito ou idiota na ONU?

- Intercept ou Lava Jato?

- Janot ou Gilmar Mendes?

- Escolas cívico-militares ou Paulo Freire?

- Globo ou Record?

- Trump ou Maduro?

- Ciro é parceiro ou traíra?

- Nazismo é de direita ou de esquerda?

Dependo das respostas, o pretendente pode se habilitar a um encontro presencial, desde que aprovado pelo comitê central. Depois, precisa se submeter a uma última prova de fidelidade à causa.

- Companheiro, peço que uses cueca vermelha no nosso encontro.

Cá entre nós e sem qualquer viés ideológico: não há libido que funcione nem paquera que prospere com um roteiro desses.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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