A História que se repete
Por Marino Boeira
Quem se interessa pela História, pela Política e pela Cultura já ouviu centenas de vezes essa pergunta - como foi possível que a Alemanha e Itália, pátrias de alguns dos maiores filósofos, romancistas, poetas, escultores e músicos que a humanidade já viu, puderam ter sido também os berços dos mais odiosos sistemas políticos já vistos, o nazismo, de Hitler, na Alemanha, e o fascismo de Mussolini, na Itália?
Talvez, não estejamos percebendo que um regime semelhante a aqueles esteja nascendo no Brasil com a presença de uma figura ainda mais tosca do que foram Hitler e Mussolini: Jair Bolsonaro, que como aqueles dois, também chegou ao poder pela via eleitoral.
Algumas pessoas já se deram conta desse processo e estão nos alertando do perigo
Talvez, o mais confiável jornalista brasileiro a ter ainda espaço na grande mídia, Jânio de Freitas, traçou essa semana na sua coluna da Folha, um roteiro extremamente pessimista para o futuro do Brasil.
Analisando o atual governo, ele aponta indícios de que caminhamos para o nazi-fascismo, como ocorreu no passado com a Alemanha e Itália.
Depois de dizer que "O governo Bolsonaro não tem a direcioná-lo uma doutrina, nem de arremedo, que lhe dê fisionomia como razão de ser e de propósito", Jânio lembra algumas "coincidências históricas": "O governo providencia, por exemplo, a criação de 108 escolas militarizadas, para início de ambicioso programa. O plano não é original, nem o era nas primeiras referências ainda na campanha eleitoral. Foi uma criação decisiva para a infiltração, ao longo dos anos 1930, do nazismo e do culto ao ditador na vida da Alemanha. O voluntariado de multidões jovens para a guerra simultânea do nazismo a dez países europeus, em 1939-40, foi obra do ensino militarizado".
Em seguida, Jânio se refere à visão de Bolsonaro e seus apoiadores sobre o cinema nacional, começando pelo entendimento deles que o filme 'Bruna Surfistinha' seria o melhor exemplo do que é feito aqui: "Esse combate à cultura artística é usual nos governos autoritários, e se volta em especial contra percepções sexuais quando o poder é militarizado ou de submissão religiosa".
O combate ao que foi chamado de "arte degenerada", na Alemanha hitlerista, também não começou pela censura explícita. Usou por bom tempo o arrocho financeiro e outras dificuldades, até dominar toda a arte. "É o que começa aqui."
Mais adiante, Jânio de Freitas se refere à discriminação na destinação de verbas públicas "os do Nordeste não vão ter nada": "A condição punitiva e personalista, para o direito a verbas públicas, contraria a Constituição. E foi o primeiro recurso administrativo contra o oposicionismo regional na Alemanha e na Itália fascista, assim como é comum nos poderes que buscam o autoritarismo".
Os sinais das práticas nazi-fascistas são realçadas pelo jornalista: "Os ataques de retaliação à imprensa, a deportação sumária e sem tempo para defesa, a desmontagem da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos são, todos, repetição do primeiro estágio de ascensão ao poder ditatorial por nazistas e fascistas".
A investida contra os índios, para a tomada exploratória de suas terras, tem semelhança com o extermínio dos ciganos dados como inúteis e viciosos pelos nazistas. Ensaio de extermínio, já anunciada por Bolsonaro, as mortes de gente "como baratas", por balas de impunidade assegurada.
Finalmente, Jânio de Freitas chama a atenção, mais uma vez, sobre o que deveria ser uma prova para todos nós de que temos como presidente eleito uma pessoa abominável e extremamente perigosa: "A repetição por Bolsonaro, sob a dignidade da Presidência da República, da qualificação de 'herói nacional' para um torturador e responsável por pelo menos 45 mortos e desaparecidos sob sua guarda, é um desacato à Constituição. No mínimo. O coronel Carlos Brilhante Ustra foi condenado pelo que o texto constitucional define como 'crimes imprescritíveis'. A transgressão de Bolsonaro, dirigida também à Presidência, é, por si só, suficiente para tornar imoral a sua continuidade no cargo. No mínimo."