A importância de participar dos processos eleitorais

Por Márcia Martins

Votar é um ato muito importante na construção de todo processo democrático e fundamental para o exercício da cidadania em qualquer situação e instância. Seja para escolher o presidente do Grêmio Estudantil da escola. Para renovar a administração do Centro Acadêmico da faculdade. Ou para decidir quem será o líder da classe e até para definir o orador da formatura. Sem falar na responsabilidade de eleger vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes. Cada um e cada uma com suas preferências, ideologias, crenças e paixões partidárias que devem ser respeitadas. O nome depositado na urna ou digitado online nas votações eletrônicas irá definir rumos, alimentar utopias e enterrar sonhos.

Como alguns leitores e leitoras foram informados na coluna sobre o meu processo de desapego, encontro-me em um período de mudança, de vasculhar gavetas e baús, de tirar o pó de documentos, de chorar ao rever fotos de eventos e pessoas do passado, de decidir o que caberá no novo pequeno latifúndio que irá me abrigar nos próximos anos. Num destes dolorosos episódios de remexer no que repousa na lembrança - porque revirar as memórias dói - encontrei um título de eleitor improvisado que a minha filha Gabriela ganhou na creche, em 2000, quando ocorreu um pleito simulado para que os pequenos eleitores e pequenas eleitoras tivessem seu primeiro contato com o voto e suas consequências.

Gabriela não precisou, às vésperas de completar seis anos, me dizer em quem havia votado, mesmo que num mero exercício de brincar de democracia, para ser o prefeito da cidade que ela recém começara a conhecer, a explorar, a amar. Eu sempre soube, desde aquele voto simbólico em 2000, que a minha filha desenvolvia senso de justiça aguçado, noções de responsabilidade elevadas, preocupação extremada com os direitos humanos e, principalmente, que seria uma lutadora para que as mulheres fossem respeitadas e ocupassem seu lugar devido e merecido na sociedade. Por isso, temos, em diversos assuntos, identidades ideológicas, políticas, musicais e partidárias.

Ao longo de seus quase 25 anos, minha filha me ensina e me incentiva a lutar pelo que acredito, a não fugir de um bom debate, a buscar sempre mais conhecimento, a jamais me contentar com o que se apresenta muito fácil, a questionar as teorias mais arcaicas e a ser mais do que coadjuvante em todos os processos eleitorais. E em todos os pleitos, ela sempre enfatiza a importância de se votar nas mulheres para aumentar a nossa representatividade nos processos e, em consequência, na construção de um mundo melhor. Com certeza, na busca de uma sociedade mais igualitária, com mais respeito, com mais dignidade.

Pois estamos no meio de uma eleição significativa para o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RGS (Sindjors), que se encerra na quinta-feira, 18 de julho, às 18h, em que concorro a um cargo na diretoria-geral. No primeiro pleito após as perdas sofridas com a reforma trabalhista do ex-presidente Michel Temer e antevendo um período bem nebuloso de dificuldades para se aposentar numa categoria que, ao envelhecer, vai sendo preterida pelos mais jovens. Num dos momentos mais críticos de fechamento de veículos e de aumento de demissões. Numa fase complicada de esvaziamento do sindicato, ou porque os jornalistas têm restrições à entidade, estão desiludidos com tudo e temem perseguição dos patrões. E continuamos, feito insanos, a brigar pela volta da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão.

Esta eleição tem algumas peculiaridades. É a primeira vez que o pleito ocorre de forma eletrônica. O associado em dia com as mensalidades não precisa aguardar a passagem da urna no seu local de trabalho ou dirigir-se até a sede da entidade. Basta acessar o computador ou o celular. É a primeira vez que uma mulher negra, com 70 anos, 48 de jornalismo, e com uma história marcada pela luta antirracista e anti-machista concorre à presidência. Vera Daisy Barcellos pretende repetir a gestão exitosa da única mulher presidenta do sindicato, a Vera Spolidoro. É a primeira vez que ultrapassamos a paridade na chapa única. Dos 30 nomes, 16 são de mulheres (Vera, Laura, Sílvia, Carla, Andreia, Eliane, Jeanice, Kátias, Márcias, Neusa, Rosa, Fabiane, Marta e Thaïs).

Gabriela e Vera podem, uma quase ostentando seus 25 anos e outra quase na estreia dos 71, ser definidoras de novos cenários para este Brasil que carece de inteligência, de coragem, de posturas enriquecedoras, de cabeças desafiadores, de mulheres que não só assumem o seu papel em todas as lutas como encabeçam e saem vitoriosas nas mais duras batalhas.

Por isso, colegas jornalistas, pensem na importância do voto. Reflitam sobre o momento perigoso de perda de direitos trabalhistas. Meditem sobre o risco de retrocesso com a possível aprovação desta reforma trabalhista. Sobre a precarização crescente do mercado de trabalho. Sobre o aviltamento dos nossos salários. Sobre a necessidade de recuperar o papel regulador do nosso diploma. E exerçam o seu direito de voto.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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