A mulher que educa é a mulher que pode alterar a cultura

Por Elis Radmann

10/03/2020 14:37 / Atualizado em 10/03/2020 14:36

A comemoração do Dia Internacional da Mulher traz consigo um reconhecimento das conquistas passadas, uma reafirmação do papel na mulher no presente e, principalmente, a necessidade de uma reflexão sobre o futuro.

A mulher tem tido muitas conquistas. Mas quando se pensa em política, não é fácil ser mulher em uma sociedade de cultura política machista, que tem na sua essência o personalismo político, em que as próprias mulheres reconhecem na figura masculina o tipo ideal de liderança.

A mulher tem um ?baita papel? como educadora. Como mãe, naturalmente, é a primeira educadora, é a orientadora da casa, dá o passo do que é certo e do que é errado. Ensina as crianças a terem valores, princípios, a reconhecerem os regramentos sociais e a lidar com os diferentes sentimentos (do amor ao ódio).

Na área da educação formal, é maioria dentro das faculdades de pedagogia e está à frente das salas de aula do ensino infantil ao médio. 

Quando analiso a capacidade da mulher de interagir na formação educacional e cultural de meninas e meninos, fico me perguntando: por que as pesquisas realizadas pelo IPO ? Instituto Pesquisas de Opinião mostram que são as próprias mulheres que mantém a maior distância de temas importantes relacionados ao exercício de cidadania, como a política?

A narrativa das mulheres me mostra que fomos educadas a educar e quando replicamos o conhecimento, replicamos os vícios de nossa educação, de nossa cultura. 

É mais ou menos assim, aprendemos que a política é um tema dos homens. E o funcionamento e os exemplos da política partidária não propiciam um envolvimento e/ou uma mudança cultural na relação com as mulheres. As mulheres continuam distantes, ampliam a negação com a política e não introjetam o tema na educação das crianças. Se não gostamos de política, como podemos ensinar nossos filhos? Ou ensinamos que a política não presta?

Pronto, continuamos com a tempestade cultural perfeita para o sistema personalista da política brasileira!  Os indicadores de desinteresse com a política se ampliam, aumenta a intolerância, a negação com a política e a reclamação de que as mulheres atuam como ?laranjas?, se candidatando para cumprirem cotas partidárias.

Pensar na evolução da mulher em uma sociedade democrática inclui a necessidade de amadurecimento da relação da mulher com a política. O princípio é simples: as mulheres precisam se interessar, se envolver com política, para saberem mais sobre o tema, para ampliarem sua representatividade na gestão pública e nos parlamentos, para participarem da elaboração ou alteração das leis, para exercerem a cidadania e ensinarem cidadania aos seus filhos.

Se as mulheres se interessarem e tiverem o hábito de conversar sobre política, vão estar mais atentas a temas como o jeitinho brasileiro, vão ter mais clareza sobre o que é certo e o que é errado e poderão guiar melhor os seus filhos.

Se as mulheres tiverem mais informações sobre política, terão mais capacidade de conhecerem as leis que as protegem, os seus direitos em relação à assistência social, habitação e saúde.

Se as mulheres se envolverem mais na política, irão salvar a política. As mulheres têm o poder de educar, de transformar uma realidade cultural e o empoderamento político trará condições para que as mulheres coloquem a política no seu eixo: o papel da política é negociar, buscar o bem-comum, o bem público e só se faz isso com respeito e ética.